sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Mantra de Padmasambhava

OM AH HUM BENDZA GURU PADMA SIDDHI HUM

Apresentação

Ajuda a caminhar do Não-Ser para o Ser, das trevas para a luz. Portanto, vai além da dicotomia mundana do ter ou ser. Há um refinamento sutil: não-ser ou ser. Podendo ser utilizado para remover as camadas de impurezas que existem em nossos corpos sutis e carma.

Significação
OM AH HUM BENDZA GURU PADMA SIDDHI HUM tem significados internos, externos e secretos. Tem o poder de harmonizar a mente, o corpo e o espírito daqueles que o recitam, fazendo a energia fluir com maior equilíbrio.

O que significa OM AH HUM?
OM refere-se ao corpo.
AH à fala.
HUM diz respeito à mente.
Representam as transformadoras bençãos do corpo, da fala e da mente de todos os Budas.
Internamente, OM purifica os canais sutis. AH o ar interno, o fluxo de energia. HUM, a essência criativa.
Externamente, OM purifica todas as ações negativas cometidas através do corpo. AH purifica todas as ações negativas cometidas através da fala. HUM, purifica todas as ações negativas cometidas através da mente.
Secretamente, OM AH HUM traz a realização dos três aspectos fundamentais da natureza da mente humana:
a) OM traz a realização de sua energia e compaixão incessantes;
b) AH traz a realização da sua natureza radiante; 
c) HUM a realização da sua essência semelhante ao céu.

O que significa BENDZA GURU PADMA?
Neste trecho, temos a essência e a benção da visão, da meditação e da ação, respectivamente.
A palavra BENDZA (ou VAJRA) se refere à essência da verdade, GURU representa a luminosidade e as qualidades da iluminação, e PADME diz respeito à compaixão incondicional. BENDZA (ou VAJRA) significa que a imutável e não-dual sabedoria dos Budas pode cortar ilusões e obscurecimentos sem nunca ser danificada ou destruída pela ignorância. As qualidades e atividades do corpo, fala e mente de sabedoria dos Budas têm a capacidade de beneficiar os seres com o poder penetrante e desobstruído do diamante (a mais forte e preciosa das pedras) e como o diamante a VAJRA é livre de defeitos.
GURU significa em parte, alguém repleto de todas as qualidades admiráveis que incorpora sabedoria, conhecimento, compaixão e meios hábeis. As qualidades inconcebíveis e perfeitas do GURU (o Mestre) fazendo-o inestimável e superior a todas as coisas em excelência.
PADMA significa lótus e se refere à família lótus dos Budas e especificamente o aspecto da fala iluminada que eles representam.
Quando são tomadas de maneira conjunta - BENDZA GURU PADMA - significam a essência e a benção da visão, da meditação e da ação. BENDZA refere-se à indestrutível essência da verdade que pedimos em nossas orações para realizar em nossa visão. GURU representa a natureza de luminosidade e as nobres qualidades da iluminação que oramos para aperfeiçoar na nossa meditação. PADMA diz respeito à compaixão que pedimos para realizar nossa ação.

Então, pela recitação dessas sílabas do mantra, recebemos as bençãos da mente de sabedoria, as nobres qualidades e a compaixão de todos os Budas.

O que significa SIDDHI HUM?
SIDDHI significa perfeição real, consecução, benção e realização. Nela está o potencial de remover os obstáculos de nossas vidas, abrindo caminho para nossas aspirações de Luz e de Amor. Há duas espécies de SIDDHI: ordinário e supremo.
Pelo recebimento da benção dos SIDDHIS ordinários, todos os obstáculos das nossas vidas são removidos, ao passo em que todas as nossas boas aspirações são atendidas.
Complementando, todas as várias circunstâncias da vida se tornam auspiciosas, conduzindo à prática espiritual e à realização da iluminação.
Por sua vez, a benção do SIDDHI supremo enseja a própria Iluminação, o estado de completa realização.
Assim, orando para o corpo, a fala, a mente, as qualidades e as atividades dos Budas obterão os SIDDHIS ordinário e supremo.
Finalmente, HUM representa a mente de sabedoria dos Budas e é o catalisador sagrado do mantra. É como o "Assim seja!".

O significado essencial do mantra é: "Eu o invoco, VAJRA GURU em sua benção, conceda-nos os SIDDHIS ordinário e supremo". Ou seja, “Que as bênçãos de Vajra, removam todos os obstáculos de nossas vidas e que nossas aspirações sejam atendidas”.

Pela recitação do mantra de Vajra Guru, esses elos e ou sílabas, que são a fonte da Originação Interdependente, são purificados e estamos prontos para remover e depurar completamente a camada de impurezas emocionais do carma, liberando-nos assim do Samsara.

Reflexão
A frágil base espiritual da mente inquieta do homem moderno favorece o karma negativo. É terrível essa percepção. Ao mesmo tempo, porém, é alentadora. O círculo vicioso do karma negativo, por efeito da ilusão a que estamos acometidos, vem com força total.
Resultado: menos concentração, menos tranqüilidade, mais ansiedade, mais destemperança, reproduzindo o Samsara. É alentadora porque representa o início de um processo de sensibilização. Certamente, a entoação desse mantra com fé e devoção, aliada à prática e mudança de atitudes, oportunizará no mínimo, a produção de um karma positivo.
Poderá representar a consolidação de um processo de conscientização e harmonização, no equilíbrio e na fluidez de nossos corpos e energias.




OM AH HUM BENDZA GURU PADMA SIDDHI HUM


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Caminhando com os Pés de Buda

Por Thich Nhat Hanh

É possível andar com os pés de Buda. Nossos pés, fortalecidos pela energia da consciência plena, se tornam os pés de Buda. Você não pode dizer “eu não consigo andar com os pés de Buda, eu não os tenho.” Isto não é verdade. Os seus pés são os pés de Buda, e é você quem decide se quer realmente usá-los. Se você levar a energia da atenção plena para seus pés, os seus pés se tornam os pés de Buda e você anda por ele. E isto não requer algum tipo de fé cega. Isto é tão claro. Se você está habitado pela energia da consciência plena, você está agindo como um Buda, você está falando como um Buda, você está pensando como um Buda. Isto é a budeidade em você. Isto é algo que você pode experimentar; não é uma teoria.

A prática do sentar em paz e a prática do caminhar em paz é muito básica em Plum Village. Nós aprendemos a sentar de tal modo que a paz seja possível durante todo o tempo sentado. Aprendemos a caminhar de tal modo que durante todo o tempo de caminhada exista paz. E confiamos em nossa atenção, em nossa concentração para tanto. Também nos beneficiamos da energia coletiva da mente atenta da Sangha para fazer isto. Se tivermos êxito em um dia, podemos ter êxito outro dia e assim por diante. Temos que estar determinados a ter sucesso na prática.

Se durante a Meditação Caminhando formos, por exemplo, capturados por um pensamento: o que temos que fazer quando formos para casa, perdemos a caminhada, perdemos a oportunidade. Estamos andando com a Sangha, mas não estamos lá. Não somos capazes de nos estabelecer no Aqui e Agora, e, portanto, não podemos dar um passo feliz, em paz. Ou, se estivermos preocupados com algo, se estivermos enraivecidos com alguém, não somos capazes de dar passos pacíficos e desta forma, perdemos tudo.

Sabemos que podemos não estar livres enquanto caminhamos. E caminhar é uma prática que nos liberta. Deveríamos andar como uma pessoa livre. Liberdade torna a paz possível, para que a felicidade esteja conosco. Temos que investir cem por cento em nós mesmos a cada passo para nos tornarmos livres. Se, enquanto estivermos andando, formos capturados e surgir um sentimento de raiva, ou preocupações, ou pensamentos do passado ou do futuro e de outros lugares, nós não estamos livres.

Não estamos realmente andando com a Sangha porque estamos em outro lugar. Isto é um desperdício. Inspirando, podemos estar cientes disto: Eu não estou realmente aqui, e me arrependerei disso depois. Estou tendo a oportunidade, mas não estou tocando as condições de felicidade que repousa no Aqui e Agora. Sou capaz de ser livre? Sou capaz de ser a paz neste exato lugar e agora? Perguntamos. Desafiamo-nos.

Por que se você não for livre, se não conseguir ser livre agora, não poderá ser livre depois. Portanto você tem que estar determinado a ser livre neste exato lugar e momento. Embora a formação mental da preocupação ou raiva surja muito fortemente, sabemos que existe profundamente dentro de nós a semente de liberdade, a semente da paz, e devemos fazer algo para que estas sementes se manifestem. Não somos apenas a preocupação, a raiva dentro de nós, somos mais do que a nossa preocupação, e a nossa raiva. E cada pessoa tem que encontrar caminhos efetivos de se libertar.

Quando temos insight, somos capazes de ver a verdadeira natureza da impermanência. Geralmente, tentamos tão fortemente fazer com que as coisas sejam estáveis em nossa vida que a idéia de impermanência provoca ansiedade. Mas se contemplarmos profundamente a natureza da impermanência, podemos na realidade achá-la muito confortante.

Quando você dá um passo, você pode visualizar que sua mãe está dando aquele passo com você. Isto não é algo difícil porque você sabe que os seus pés são uma continuação dos pés de sua mãe. Na medida em que praticamos a contemplação profunda, vemos a presença de nossa mãe em cada célula do nosso corpo. Nosso corpo também é uma continuação do corpo de nossa mãe. Quando você dá um passo, você pode dizer: “Mãe, ande comigo.” E subitamente você sente sua mãe dentro de você andando com você. Você pode notar que, durante a vida dela, ela não teve muita chance de andar no Aqui e Agora e tocar o chão como você. Então subitamente nasce a compaixão, nasce o amor. E isto se dá porque você consegue ver sua mãe andando com você – não como algo imaginado, mas como uma realidade. Você pode convidar o seu pai a andar com você. Você pode querer convidar as pessoas que você ama a andar com você no Aqui e Agora. Você pode convidá-los e caminhar com eles sem eles precisarem estar fisicamente presentes.

Nós continuamos nossos ancestrais, nossos ancestrais estão totalmente presentes em cada célula do nosso corpo. Então quando damos um passo em paz e sabemos que todos os nossos ancestrais estão dando aquele passo conosco, milhões de pés estão fazendo o mesmo movimento. Com técnicas de vídeo você consegue criar àquele tipo de imagem. Milhares de pés estão dando um passo juntos. E é claro que sua mente consegue fazer isto. A sua mente consegue ver milhares de milhões de pés dos seus ancestrais dando um passo junto com você. Esta prática, usando visualização, vai quebrar a idéia, o sentimento, que você é um eu separado das outras pessoas. Você anda e, no entanto, eles andam também com você.

Buda nos ofereceu muitas práticas para que possamos ser nós mesmos. O insight da impermanência é um dos instrumentos que dispomos. O insight da inexistência do eu, do outro. Apesar de tudo, a pessoa de quem estamos com raiva, seja nosso filho, seja nossa filha, seja nosso companheiro, a felicidade dele ou dela é nossa própria felicidade. Se àquela pessoa não estiver feliz, eu não conseguirei estar feliz. Eu não quero ser desamável com ele ou com ela. Portanto, eu devo ser pacífico, eu devo ser feliz, porque ficando com raiva eu não me ajudo, e não ajudo a ele ou ela. Se eu sofrer, não há como ele ou ela ser feliz. Ele não é um eu separado e eu não sou um eu separado; nós interexistimos. Quando você usa o instrumento da inexistência do eu e toca a natureza da interexistência, subitamente você supera sua raiva e você é capaz de dar um passo pacífico e feliz.

Se você está andando com os pés de Buda, você está andando no céu, você está andando na Terra Pura a cada passo. A prática de Plum Village é caminhar na Terra Pura de Buda todo dia. Toda vez que você se move, os seus pés tocam a Terra Pura de Buda. Isto está escrito em um dos cânticos diários: Cada passo me ajuda a tocar a Terra Pura. Esta é a prática. Outro verso: Eu me comprometo a tocar a Terra Pura a cada passo que dou. Estes cânticos não é uma oração a mais, mas sim um guia, um lembrete de prática. Você pode fazer isto; você sabe que consegue fazê-lo. Com consciência plena, você se torna atento de seus passos e toca a Terra Pura com todas as suas maravilhas. Um passo como este gera liberdade, alegria e cura.

Todos nós sabemos que a meditação caminhando é para curtirmos caminhar no Reino de Deus, na Terra Pura de Buda, e andando deste jeito pode transformar, pode curar, pode gerar muito amor interno. Andamos não apenas por nós mesmos, andamos por nossos pais, nossos ancestrais e por àqueles que estão sofrendo no mundo. A Terra Pura é algo que carregamos conosco em qualquer lugar que vamos – uma Terra Pura portátil. Esta é a melhor coisa que você pode oferecer às pessoas que você encontra. Oferecer a elas nada menos que a Terra Pura ou o Reino de Deus. Você é um (a) bodhisattva, este é o tipo de presente que vale à pena preparar para as pessoas à sua volta.

Cerca de um milhão e quinhentos mil anos atrás, os humanos começaram a ficar em pé sobre os próprios pés e as mãos deles foram liberadas. Uma vez que as mãos estavam libertas, o cérebro começou a crescer muito rapidamente. A natureza búdica é inerente ao homem primitivo, embora Buda só tenha aparecido na Terra há dois mil e seiscentos anos atrás. Aprendemos com ele que outros Budas apareceram antes dele, como Buda Dipankara e Buda Kashyapa. Existe uma raça de seres humanos que são capazes de gerar a energia da Consciência Plena o dia todo. E nós pertencemos a esta raça: “homo sapiens consciente”.

Todos nós pertencemos à família de Buda, porque somos capazes de gerar a energia da Consciência Plena que habita em nós vinte e quatro horas por dia. Budas são àquelas criaturas que vivem plenamente conscientes vinte quatro horas por dia. No início nos tornamos um(a) Buda por meio-expediente, e na medida em que continuamos a praticar nos tornamos Budas por tempo integral. Aprendemos a não discriminar porque compreendemos que cada pessoa possui a semente da natureza búdica. Todos os que não são Buda têm a natureza de Buda. É por isso que estamos livres de discriminação racial e social.

E nossa prática é ajudar a natureza de Buda a se manifestar em tantas pessoas quanto possível, porque o despertar coletivo é a única coisa que pode nos retirar desta situação presente difícil. Após a iluminação, Buda já sabia que ele tinha que compartilhar a prática com os outros. Buda significa “uma pessoa desperta”, uma pessoa consciente. Durante os seus quarenta e cinco anos de clérigo, Buda sempre tentou ajudar outras pessoas a despertarem, a serem plenamente conscientes. Ele sempre ensinou que o caminho da Consciência Plena, concentração e insight é o caminho da libertação, o caminho da felicidade.

(Do livro Buddha Mind, Buddha Body: Walking toward Enlightenment, de Thich Nhat Hanh)
(Tradução para o português: Tâm Vân Lang)
FONTE: http://sangavirtual.blogspot.com

domingo, 4 de agosto de 2013

Um Pouco do Mestre

Muito divulgamos os notáveis e inspiradores textos do Mestre Thich Nhat Hanh, que é carinhosamente chamado de Thay, textos estes que nos conduzem a uma profunda análise do comportamento humano, de como somos e a forma como nossos sentimentos contribuem e ou nos impedem de buscar o real sentido da vida ou nossa natureza desperta. Ensina como trabalhar nossos medos, nossa raiva e nossas aflições. E de maneira muito simples e amável Thay nos mostra um caminho, que é de sabedoria, felicidade e generosidade. Porém, pouco se sabe sobre este extraordinário e respeitável disseminador do Budismo Engajado e maior incentivador ao desenvolvimento da compaixão e da propagação da não-violência. Estar em “Plena Consciência” é o primeiro passo para que meditemos de forma diligente e sintamos as mudanças à nossa volta.
E já que Budismo significa estar consciente, estar desperto para o que está acontecendo com nosso próprio corpo, nossos sentimentos e nossa mente, bem como também com o mundo que nos cerca, achamos necessário mostrar um pouco sobre a vida de Thich Nhat Hanh, para que se entenda melhor o Despertar de Consciência que ele adquiriu ao longo de sua extraordinária jornada pelo caminho da extinção do sofrimento e da busca da felicidade.
                                                                    ...

Quando foi convidado para o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça em janeiro de 2001, Thich Nhat Hanh discutiu juntamente com outros importantes líderes religiosos do planeta, como os valores espirituais poderiam ser usados para ajudar a resolver questões globais.
Diante de aproximadamente trinta chefes de Estado, duzentos dos homens e mulheres mais ricos do mundo e de alguns milhares dos mandachuvas mais influentes da atualidade, Thay falou com amor, compaixão e total destemor. Ele não estava presente para buscar o apoio ou a aprovação das pessoas importantes e famosas, e sim na esperança de despertar o que havia de melhor nelas, de ajudá-las a mudar o mundo entrando em contato com o verdadeiro Eu que existe dentro delas.
Em uma reunião dedicada à riqueza, à influência e ao poder em todas as fabulosas manifestações, ele falou em um tom suave e tranqüilo. Não pediu nada àquelas pessoas, apenas solicitou-lhes que sempre se lembrassem da condição humana que compartilhavam. O Fórum Econômico Mundial exibia orgulhosamente na sua web site o seguinte lema: “Emprenhados em Melhorar a Condição do Mundo”. Naquele dia em Davos, Thay pediu a todos que adotassem o lema: “Empenhados em Melhorar a Condição de Cada Coração”.
Thich Nhat Hanh passou sua vida falando a verdade para o poder e para os importantes. Ele é um revolucionário determinado, não alguém que nos pede para escalar com raiva os baluartes e sim um revolucionário do espírito humano, da compreensão e do amor. Nascido em 1926, Thay foi criado no Vietnã, um dos países mais devastados pela guerra no século XX. Juntou-se aos monges budistas aos 16 anos, sendo ordenado. É um dos mestres do zen-budismo mais conhecidos e respeitados no mundo de hoje. Desde o início, ele foi àquela pessoa rara capaz de se dedicar a várias vocações e se distinguir em todas elas. Simultaneamente foi monge budista, erudito, poeta, escritor, reformista e ativista social da paz e dos direitos humanos. E fez tudo isso quando jovem, em uma época e lugar de imensurável tumulto e sofrimento.
E foi por ocasião da Guerra do Vietnã, que mosteiros se defrontaram com a questão de aderir ou não, exclusivamente, à Vida Contemplativa e continuar a meditar nos mosteiros, ou ajudar a população que sofria sob bombardeios e outras devastações da guerra. Thich Nhat Hanh foi um dos que optaram por fazer as duas coisas, ajudando a fundar o movimento do Budismo Engajado. Desde então, tem dedicado sua vida ao trabalho da transformação interior para o benefício dos indivíduos e da sociedade.
Sobreviveu à invasão japonesa da sua terra natal em 1941, ao retorno dos franceses no fim da Segunda Guerra Mundial, à guerrilha que se seguiu e se tornou o que é hoje conhecido no Vietnã como a guerra americana e nos Estados Unidos como a guerra do Vietnã. Na qualidade de reformista e ativista, ajudou a fundar muitas instituições pioneiras, entre elas o An Quang Buddhist Institute, que se tornou um dos principais centros de estudos budistas no Vietnã do Sul e a La Boi Press, que se estabeleceu como uma das editoras mais prestigiosas do país. Fundou também a Escola de Jovens para o Serviço Social, chamada de “O Pequeno Corpo da Paz” pela imprensa America.
Durante os piores anos da guerra, ele e a sua assistente, irmã Chan Khong, arriscaram a vida ao lado de milhares de outros jovens, incluindo monges e monjas budistas, indo para o interior fundar escolas e clínicas médicas, bem como para reconstruir povoados destruídos pelas batalhas.
Em Saigon, no início dos anos 60, Thich Nhat Hanh fundou a Escola de Serviço Social da Juventude, uma organização de apoio popular que passou a se dedicar à reconstrução de aldeias bombardeadas, criação de escolas e centros médicos, reassentamento de famílias desabrigadas, e organizando as cooperativas agrícolas. Reunindo cerca de 10.000 estudantes voluntários, a organização baseou o seu trabalho nos princípios budistas da não-violência e ação compassiva. Durante esse período, Thich Nhat Hanh também fundou uma editora e uma revista influente de ativismo da paz no Vietnã, da qual foi redator-chefe da publicação oficial da Igreja Budista Unificada e autor de numerosos livros de poesia, de psicologia budista e de comentários sociais, apesar da denúncia pelo governo de suas atividades, Thay também fundou uma Universidade Budista.
Em 1966, viajou para os Estados Unidos e Europa para preconizar uma missão de paz. Durante a viagem, fez um discurso para o público americano a fim de “descrever as aspirações e a agonia das massas vietnamitas que podiam opinar”, com isso, foi proibido de retornar ao Vietnã. Em outras viagens aos Estados Unidos, Thich Nhat Hanh elaborou um processo de paz para as autoridades federais e do Pentágono, incluindo Robert McNamara. Acredita-se que ele pode ter mudado o curso da história dos EUA, quando persuadiu Martin Luther King a se opor publicamente à Guerra do Vietnã, pois fez um discurso famoso na Igreja Riverside em Nova York, o primeiro a questionar o envolvimento dos EUA no Vietnã, sendo que isso ajudou a galvanizar o movimento pela paz.
No ano seguinte (1967), Luther King o indicou para o Prêmio Nobel da Paz, dizendo o seguinte: “Eu pessoalmente não conheço ninguém mais digno para este prêmio, do que este monge gentil do Vietnã. Suas idéias de paz, se aplicadas, poderiam construir um monumento para o ecumenismo, a fraternidade mundial, a humanidade”. O fato de Luther King ter revelado seu desejo e ou mencionado que o candidato havia sido escolhido e de ter feito um "forte pedido" para o comitê do prêmio, violando assim, as regras e tradições do protocolo, o comitê decidiu por não fazer o prêmio naquele ano.
Posteriormente, Thich Nhat Hanh chefiou a delegação budista nas Conversações de Paz de Paris. Em 1969, conduziu a Delegação Budista da Paz à Conferência da Paz em Paris, organizada para negociar o fim da guerra do Vietnã.
Em 1973, devido ao seu trabalho em prol da paz, teve novamente negada a permissão para voltar para casa. No entanto, o exílio não o deteve. E durante os últimos quarenta anos em que viveu no Ocidente, consolidou-se como um dos líderes espirituais mais influentes e respeitados do mundo. Thich Nhat Hanh deu continuidade ao seu ativismo social, apoiando mais de cem escolas e programas de melhoramento de povoados na sua terra natal. Também continuou a se envolver com movimentos sociais e defensores da paz ao redor do mundo, falando sobre uma grande variedade de assuntos, desde a AIDS à guerra do Iraque. Tendo mais de cem livros publicados em mais de trinta idiomas e uma programação permanente de ensino e o seu impacto continua a crescer no mundo inteiro.
Em 1982, a partir do seu eremitério no sudoeste da França, fundou Plum Village, uma comunidade budista (Sangha), onde continua seu trabalho para aliviar o sofrimento dos refugiados, de presos políticos e famílias famintas do Vietnã e de todo o Terceiro Mundo. Também recebeu o reconhecimento por seu trabalho com os veteranos do Vietnã. Desenvolve retiros de meditação e escritos sobre a consciência, atenção plena e paz.  Ensina a prática dos Cinco Treinamentos da Mente Alerta e os Quatorze Treinamentos da Plena Consciência, a tomar Refugio nas Três Jóias e etc. Já foram publicados cerca de 100 títulos de sua obra, tais como poemas, prosas, orações e psicologia budista, com mais de 40 títulos em Inglês e mais de 20 em português.
Ele continua a viver em Plum Village, onde ensina, escreve e conduz retiros para o mundo todo, através da “Arte de Viver Consciente”. Dirige numerosas comunidades (Sanghas) de monges, monjas e leigos nos cinco continentes. Um dos principais ensinamentos de Thich Nhat Hanh é que “através da plena consciência, podemos aprender a viver no momento presente, em vez de nos apegarmos ao passado ou futuro. E residindo no momento presente é a única maneira de realmente desenvolver a paz, em si mesmo e no mundo”.
Em 2005, após longas negociações, Thich Nhat Hanh conseguiu voltar à sua terra natal, o Vietnã, pela primeira vez em 39 anos.

Alguns dos títulos em língua portuguesa que podemos encontrar:
·  Caminhos para a Paz Interior
·  Flamboyant em Chamas
·  Meditação Andando
·  Respirando e Sorrindo (Solaris)
·  Vietnã — Flor-de-lótus em Mar de Fogo (Ed. Paz E Terra)
·  O Coração da Compreensão (Ed. Bodigaya)
·  Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta (Ed. Vozes) - 1976
·  Paz a Cada Passo: Como Manter Sua Mente Desperta no Seu Dia-a-dia (Ed. Rocco) - 1990
·  Vivendo em Paz - Como Praticar a Arte de Viver Conscientemente (Ed. Pensamento) - 1992
·  O Sol Meu Coração - Da Atenção à Contemplação Intuitiva - 1995
·  Cultivando a Mente do Amor - 1996
·  Vivendo Buda, Vivendo Cristo (Ed. Rocco) - 1997
·  Jesus e Buda, Irmãos (Ed. Bertrandi Brasil) - 2002
·  Aprendendo a Lidar com a Raiva - Sabedoria Para A Paz Interior (Ed. Sextante) - 2003
·  Ensinamentos sobre o Amor (Ed. Sextante) - 2005
·  Velho Caminho, Nuvens Brancas: Seguindo as Pegadas do Buda (Bodhgaya) - 2007
·  A Arte do Poder
·  Corpo e Mente em Harmonia: Andando Rumo à Iluminação (Ed. Vozes) - 2009