domingo, 13 de outubro de 2013

O que é o Budismo Engajado?

Por Antonino Condorelli

"Por Budismo Socialmente Engajado ou, simplesmente, Budismo Engajado entende-se o envolvimento ativo por parte dos praticantes budistas na sociedade e seus problemas, visando aliviar a dor dos outros, transformar as raízes que produzem injustiça e exploração e promover a paz, a igualdade, a solidariedade, os direitos humanos e a harmonia entre todos os seres.

A expressão Budismo Engajado, criada na década de 1960 por uma encarnação viva do Dharma, o mestre Zen vietnamita Thich Nhât Hanh, para referir-se ao trabalho dos movimentos budistas em prol da paz e os direitos humanos em meio à destruição e as atrocidades da guerra, hoje abrange um amplo leque de organizações, grupos e indivíduos que em muitos países do mundo dedicam-se a praticar os ensinamentos do Buda no coração da dor, com ações e projetos que visam aliviar o sofrimento das pessoas oprimidas por situações de miséria, exploração, privação da liberdade, violência física, psicológica ou sexual e outras formas de negação da dignidade humana, promovendo um novo modelo sociedade que se baseie na percepção da íntima interconexão de tudo o que existe.

A expressão é, na verdade, uma redundância. O Dharma, o caminho do amor e da compreensão traçado pelo Buda Siddharta Gautama há mais de 2.500 anos, é por sua natureza engajado, pois não pode existir longe e independentemente da vida das pessoas, não faz sentido fora do dia a dia e não se nega a enfrentar a dor, mas a encara de frente para transformá-la. Os ensinamentos budistas não são um sistema de crenças vindas de fora às quais aderir: são instrumentos práticos para libertar-se da dor, para cultivar a compaixão, o amor e a equanimidade e para chegar a uma compreensão profunda da realidade. Nascem da vivência e só adquirem valor dentro da experiência. Não são um conjunto de idéias em que acreditar: são uma forma de viver.

Uma forma diferente da que estamos acostumados: viver o Dharma é estar em contato com o sofrimento que permeia a existência conscientes da beleza sempre presente em cada instante da vida, é viver sem descriminar, sem julgar, sem separar, reconhecendo a dignidade, a igualdade essencial e a estreita interdependência de todos os seres, o milagre representado por cada fenômeno do universo, porque absolutamente tudo possui a essência de Buda, a natureza da compreensão, o amor e a liberdade. Viver o Dharma não é outra coisa do que viver para aliviar o sofrimento e levar felicidade aos outros. Por isso, o Budismo não pode ser senão “engajado”.

Mas nos anos Sessenta, no Vietnã e outros países asiáticos foi necessário “devolver” ao Dharma esta sua natureza originária desafiando as estruturas e mentalidades patriarcais, engessadas e afastadas da sociedade que caracterizavam a maioria das instituições budistas. Neste processo de reforma e revitalização do Budismo, a partir do caráter intrinsecamente flexível e estritamente vinculado à vida real deste último, verificou-se uma natural confluência entre o Dharma do Buda e elementos contemporâneos que partilham de ideais e princípios análogos como o feminismo, o princípio gandhiano da não-violência ativa e a ecologia profunda.

Desde o coração da Ásia, nas últimas décadas o Budismo Engajado propagou-se pelo chamado “Primeiro Mundo” e hoje conta com uma ampla e articulada rede de entidades e movimentos empenhados em cultivar a paz e a compaixão e em propagar os direitos humanos, o respeito ao meio ambiente e a solidariedade pelo mundo afora. Muitas destas organizações integram o International Network of Engaged Buddhists (Rede Internacional de Budistas Engajados), com sede na Tailândia.

Entre os principais movimentos budistas engajados, destacam-se a Ordem do Interser (Tiep Hien), fundada em 1964 por Thich Nhât Hanh no Vietnã e presente hoje em muitos países, que tem seu núcleo central no Centro de Meditação de Plum Village no Sul da França e está empenhada em atividades ao redor do mundo de resgate de refugiados, promoção do desenvolvimento sustentável, propagação da paz, a não-violência, os direitos humanos e o respeito ao meio ambiente; as atividades de Sua Santidade o XIV Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz em 1989, não apenas para a liberdade do povo tibetano, vítima da invasão chinesa, mas de propagação incansável dos princípios da não-violência e a compaixão como soluções para os graves conflitos da nossa época.

As atividades da comunidade de Samdech Phra Maha Ghosananda, monje Theravada falecido em março de 2007, que foi apelidado “O Gandhi da Camboja” pelo seu trabalho em prol da paz, a justiça social e os direitos humanos no seu país natal; os trabalhos de Sulak Sivaraksa, intelectual e ativista tailandês de inspiração budista, fundador da Sathirakoses Nagapradeepa Foundation e várias outras organizações, que conta com uma trajetória de cerca de setenta anos de atividades em prol da justiça social, a paz, a democracia e o desenvolvimento sustentável.

Muitos outros movimentos e organizações dedicam-se a praticar o Dharma como uma força de transformação social em países como Índia, Sri Lanka, Tailândia e também Estados Unidos, Austrália e diversos países da Europa Ocidental."

"A escuta profunda e a fala amorosa podem nos ajudar a apoiar a transformação dos indivíduos e da sociedade e nutrir o despertar coletivo que irá salvar nosso planeta e nossa civilização."
(Thich Nhat Hanh) 

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Antonino Condorelli, é comunicador e educador engajado ativamente na luta por uma sociedade justa, democrática, igualitária, pacífica, solidária e participativa, abraçou a causa da promoção e defesa incondicional de todos os direitos humanos desde 2003, quando integrou à equipe do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) de Natal, Rio Grande do Norte, na Região Nordeste do Brasil. Trata-se da organização-não-governamental que coordena a Rede Estadual de Direitos Humanos - RN e que produziu e gerencia a DHnet - Rede Direitos Humanos e Cultura, o portal que possui o maior e mais completo acervo de dados e informações sobre direitos humanos e cidadania em língua portuguesa. 

É praticante Zen informalmente ligado à Ordem do Interser do mestre Zen vietnamita Thich Nhât Hanh, fundador e principal protagonista do Budismo Socialmente Engajado. Paulo embasa suas ações nos princípios da universalidade, indivisibilidade, interdependência e inter-relacionamento de todos os direitos humanos; da ecologia profunda, ou seja, a convicção de que o ser humano é parte integrante física, psicológica e espiritualmente do ambiente em que vive e, portanto, a natureza possui um inestimável valor em si mesma, independentemente da utilidade material que tem para o homem; e da não-violência ativa, inspirada na ideia gandhiana de que “não há caminho para a paz, a paz é o caminho”.


FONTE: http://budistasengajados.blogspot.com

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

As Três Jóias do Budismo


Tomo refúgio em Buda, aquele que me mostra o caminho nesta vida. 
Tomo refúgio no Dharma, que é o caminho da compreensão e do amor.
Tomo refúgio na Sangha, a comunidade de plena consciência e harmonia.

      As pessoas buscam na religião um ponto de apoio para nortearem suas vidas. Na religião cristã, por exemplo, o ponto de apoio é Deus, que é Uno em três pessoas: Pai, Filho (Jesus) e Espírito Santo. Para nós budistas, encontramos nosso ponto de apoio nas chamadas Três Jóias (ou Três Tesouros ou Três Refúgios).
   O Buda (o Desperto), o Dharma (a Lei ou a Doutrina) e a Sangha (a Comunidade dos Discípulos/seguidores). É se apoiando nas Três Jóias que nós budistas alcançamos a energia e disposição para mudar o que pode ser modificado, conseguimos a coragem e a serenidade para aceitar o que não pode ser alterado, e obtemos o discernimento para distinguir uma coisa da outra.
     Segundo Thay, na tradição budista praticamos estes Três Refúgios. Onde buscar/tomar refúgio é o reconhecimento e a determinação em se dirigir para o que é mais bonito, verdadeiro, pleno e bom. Tomar refúgio é também a consciência que se possui, a capacidade de entendimento e do amor.

  Buda é a pessoa histórica que viveu 2600 anos atrás e todos os nossos professores ancestrais que nos conectam ao estado de Buda. É o homem desperto ou iluminado que tomou plena consciência do significado da vida e do caminho que liberta o ser humano do sofrimento. Buda é aquele que nos mostra o caminho nesta vida.  Buda é também a natureza desperta em todos os seres. Cada elemento no universo que está nos mostrando o caminho do amor e do entendimento, é natureza Buda. Os olhos abertos de uma criança e os raios de sol que fazem com que a flor abra sua beleza, também contém a natureza desperta de Buda. Nós budistas tomamos refúgio no Buda por ser ele o Sábio, o Conhecedor de tudo, aquele que com sua Compaixão indica-nos o caminho que o aliviará da angústia e do sofrimento.

O Dharma é a Doutrina, pregada pelo Buda, que expõe a Lei Suprema que fundamenta e rege toda a existência e que, quando compreendida e assimilada, liberta o homem do sofrimento e lhe proporciona a mais profunda e inquebrantável paz de espírito. Nós budistas tomamos refúgio no Dharma, assumindo o compromisso de ouvi-lo com constância e assiduidade, porque ele ilumina nossa existência, dissipando as trevas da ignorância, nos faz tomar consciência de nosso egoísmo e de nossas limitações, e nos conduz à salvação. É o Dharma que nos ensina que todas as coisas são impermanentes, dolorosas em sua transitoriedade, e desprovidos de substância própria, em sua mútua interdependência das coisas. É o Dharma que nos esclarece sobre a existência do sofrimento inerente ao nascimento, à doença, à velhice e à morte, sobre a ignorância, a cólera e o egoísmo, que são as causas do sofrimento, bem como sobre a possibilidade de se superar o sofrimento, através do Óctuplo Caminho que leva a essa superação: a visão correta, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, a vida correta, o esforço correto, a intenção correta e a concentração correta. O Dharma, são todos os elementos no nosso mundo e na nossa consciência que nos guiam no caminho da liberação. O Dharma vivo é contido em cada canto do universo. Uma nuvem flutuando está silenciosamente pregando sobre liberação. É a folha caindo nos mostra a prática de "deixar ir". Cada vez que eu e você respiramos profundamente, andamos em plena consciência e olhamos outra pessoa com olhos de entendimento e compaixão, estamos dando um silencioso ensinamento do Dharma.

A Sangha é a Comunidade formada pelos fiéis discípulos do Buda, que vivem no seio da sociedade maior, em harmonia e fraternidade, respeitando a Vida, em todas suas manifestações, sempre assíduos em ouvir o Dharma e sempre prontos para transmitir sua fé aos demais. Nós budistas, tomamos refúgio na Sangha porque ela é a legítima sociedade fraterna formada pelos que trilham o Caminho da Sabedoria e Compaixão ensinado pelo Buda Desperto. Desta forma, Sangha é a comunidade que vive em harmonia e consciência. Seus professores, seus amigos e você mesmo são elementos da sua própria Sangha. Um caminho na floresta pode significar um membro de sua Sangha, apoiando-o no caminho da transformação. Na Sangha podemos compartilhar nossas alegrias e dificuldades. Podemos nos deixar ir e relaxarmos no calor e na força de nossa Sangha. A Sangha é o rio, fluindo e serpenteando com flexibilidade, respondendo ao ambiente em que está localizada. Ao tomarmos refúgio na Sangha, nos juntamos à corrente da vida, fluindo e nos tornando Unos com todos os nossos irmãos e irmãs na prática.
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  "Tomar refúgio no Buda significa reconhecer a semente da iluminação que está dentro de nós mesmos, a possibilidade de libertação. Também significa tomar refúgio naquelas qualidades que o Buda corporifica; qualidades como destemor, amor e compaixão. Tomar refúgio no Dharma significa se abrigar na lei, no modo como as coisas são. É reconhecer nossa submissão à verdade, permitindo que o Dharma se desdobre dentro de nós. Tomar refúgio na Sangha significa aceitar o suporte da comunidade, de todos nós ajudando uns aos outros em direção à iluminação e à liberdade"


Namastê!!