segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Os Preparativos - 1° Meio que Transforma a Mente

O objetivo da prática do Dharma é alcançar um estado de genuíno de bem-estar que flui de uma fonte de conscientização pura e clara, que surge não de estímulos dos prazeres sensoriais, mas da natureza da Consciência Pura. Isto traz não somente uma sensação feliz, bem como um modo de ser que fundamenta e permeia todos os estados emocionais. Lida com a vida sem confusão, leva a plenitude do ser e conduz a um estado genuíno e duradouro de felicidade e que desta forma não depende de estímulos.

O Dharma é como um medicamento: destina-se a ajudar a interromper comportamentos e atitudes habituais que impedem a capacidade da mente de se curar ou de iluminar-se. Quanto mais você pratica o Dharma, mais ele revelará sua felicidade inata. O Treinamento da Mente é a essência do Dharma, e consiste em etapas que iniciam com os preparativos. 

O necessário é impregnar a mente com dois desafios: uma extensa avaliação da vida comum e uma extensa avaliação do potencial humano. Na verdade, OS PREPARATIVOS são a essência da evolução. Os preparativos são Quatro Meditações discursivas tradicionais chamadas de “Os Quatro Pensamentos que Mudam a Mente”. Estas meditações mudam nossa mente para a direção das nossas aspirações mais elevadas e reordenam progressivamente as prioridades. A meditação discursiva é refletir sobre assuntos escolhidos e pode ser realizada a qualquer momento.

O Primeiro dos Quatro Pensamentos:

A Rara e Preciosa Vida Humana 
Algumas pessoas vivem em condições nas quais não existe lazer e alegrias. E cada inspiração está comprometida subsistir, ou seja, em conseguir alimento, em manter-se abrigado, procurar segurança ou em desviar-se de bombas, por exemplo. Se você vive em uma área de pestilência, fome ou guerra, você não tem lazer, não tem tempo, não sente a verdadeira felicidade.

Esta primeira meditação discursiva aumenta o apreço pelo tempo livre. Devemos aprender a utilizar nosso tempo livre para respirar o presente, e preencher o nosso coração vazio com Dharma. 
É preciso também reconhecer nossa oportunidade, por termos nascido como seres humanos, de assim compreender o Dharma, coisa que não é possível em outros reinos. Reconhecendo a oportunidade única de ter nascido com alguma ou outra condição, discernimento e inteligência para compreender a vida e oportunizar o despertar espiritual e a felicidade genuína que são uma joia rara.

A prática espiritual se dirige às causas fundamentais do sofrimento e requer que examinemos de perto os preconceitos que mantêm nossa visão de mundo e perpetuam nossos problemas. Embora o sucesso pareça ser a fonte dos bons momentos da vida, a felicidade incluída, não é o objetivo da prática espiritual. Nossas idéias sobre sucesso são baseadas em preconceitos que no budismo, são chamados de “as oito preocupações mundanas”.  A fixação nessas preocupações subverte nossos  melhores esforços, conduzindo a um falso sucesso ou a uma real frustração.
As oito preocupações mundanas consistem em quatro pares de prioridades: 
  • Buscar aquisições materiais e evitar sua perda; 
  • Buscar o prazer dirigido pelo estímulo e evitar o desconforto; 
  • Buscar o elogio e evitar a culpa; 
  • Manter boa reputação e evitar a má reputação. 

Estas oito preocupações resumem, em geral, nossa motivação pela busca da felicidade e eis aqui o problema. Estas preocupações, mesmo não sendo erradas em si, sustentam nossa motivação e é a motivação, mais do que qualquer outro fator, que determina o resultado da nossa prática espiritual, se será algo bom e construtivo ou se será algo doloroso e ruim.

A verdadeira fonte da felicidade não está no domínio das oito preocupações mundanas. Sejam ricos, pobres, elogiados, culpados, estimulados, entediados, respeitados, ultrajados e etc. – nenhuma destas preocupações são em si fontes de felicidade e não impedem a felicidade.
Porém, o problema é que quando encaramos as preocupações mundanas como um meio para a felicidade, a vida se torna um jogo de dados em que não há garantias.
Não espere até você ter 80 anos para compreender as deficiências das oito preocupações mundanas, examine suas prioridades agora. Também não há necessidade de rejeitar estas preocupações por completo. O imprescindível é desviar seu investimento primário de outros pontos para o Dharma genuíno. Quando você mudamos nossas prioridades e voltamos para a prática espiritual, todo o contexto de vida vai trabalhar a favor desta mudança e vamos perceber que os benefícios das preocupações mundanas vão se alinhar a nossa prática.

A “preciosidade” se refere ao nosso potencial humano para eliminar as fontes de sofrimento do nosso próprio ser, para transformar a mente de modo que, independente das circunstâncias, não precisemos sofrer novamente pelas mesmas aflições mentais.  
Mas de que maneira? Identificando e erradicando, de modo progressivo, todas as aflições que são fontes de sofrimento. E ao mesmo tempo, percebendo e intensificando a compaixão por nosso próprio sofrimento e o sofrimento alheio.

O grande tesouro está na verdade dentro de nossa mente e coração. Mestres, tradições, técnicas, todos têm o único propósito de ajudar a revelar aquilo que já está dentro de nós, do contrário ainda não compreendemos muito bem o real valor do Dharma. O Dharma genuíno consiste então, nos métodos para revelar o que já está dentro de nós e isto é preparar nossa mente para as mudanças que transformam o nosso meio e nossa prática espiritual.

Namastê!!

domingo, 10 de novembro de 2013

Os Quatro Pensamentos Imensuráveis (parte II)

Depois de começar a entender o que é amor na visão budista, te convidamos a continuar refletindo sobre o tema no texto dessa semana.
No texto, Thich Nhat Hanh ensina os outros dois aspectos dos quatro referentes ao verdadeiro amor, segundo a filosofia budista. O terceiro aspecto do verdadeiro amor é mudita, a alegria. O verdadeiro amor sempre proporciona alegria, para nós e para as pessoas que amamos. Se nosso amor não trouxer alegria para as duas partes, não será um verdadeiro amor. O quarto aspecto do verdadeiro amor é upeksha, que significa equanimidade, desapego, não-discriminação, serenidade mental, ou a capacidade para deixar as coisas seguirem.

O terceiro elemento que é parte do amor é mudita, a alegria. O verdadeiro amor sempre proporciona alegria, para nós e para as pessoas que amamos. Se nosso amor não trouxer alegria para as duas partes, não será um verdadeiro amor. Os comentaristas budistas explicam que a felicidade está relacionada ao corpo e à mente, enquanto que a alegria se relaciona basicamente com a mente. Um exemplo muito citado é o seguinte: Alguém está atravessando um deserto e vê um riacho de água fresca. Nesse momento, a pessoa experimenta alegria. Ao beber a água, a pessoa experimenta a felicidade.

Drishta dharma sukha viharin significa "estar feliz no momento presente". Não nos lançamos ao futuro, porque sabemos que tudo o que importa está aqui, agora. Muitas pequenas coisas podem nos proporcionar alegria, como por exemplo a lembrança de que temos um par de olhos em bom estado de funcionamento. Só precisamos abrir nossos olhos, para enxergar o céu azul, as flores violetas, as crianças, as árvores, além de muitas outras formas e cores. Com nossa atenção, atingimos todas estas coisas maravilhosas e renovadoras, e a alegria surge naturalmente em nossas mentes. A alegria contém felicidade, assim como a felicidade contém a alegria.

Alguns comentaristas já disseram que mudita significa "alegria empática" ou "alegria altruísta", ou seja, a felicidade que sentimos ao ver pessoas felizes. Mas isso é muito limitado, porque implica uma separação entre o "eu" e os outros. Uma definição mais profunda de mudita é a alegria repleta de paz e de contentamento. Nós nos alegramos ao ver outras pessoas, mas também nos alegramos com o nosso próprio bem-estar. Como podemos nos alegrar por outra pessoa, se não sentimos alegria por nós mesmos? A alegria é para todos.

O quarto elemento do verdadeiro amor é upeksha, que significa equanimidade, desapego, não-discriminação, serenidade mental, ou a capacidade para deixar as coisas seguirem. Upa quer dizer "acima" e iksh significa "olhar". Você sobe uma montanha para poder olhar de cima, para a situação como um todo, sem se limitar a um lado ou a outro. Se o amor contiver apego, discriminação, preconceito ou desejo, não será um amor verdadeiro. As pessoas que não conhecem o budismo pensam que upeksha significa indiferença, mas a verdadeira equanimidade não é fria nem indiferente. Se você tem mais de um filho, todos são igualmente seus filhos. Upeksha não significa que você não os ama, mas que ama de tal maneira que todos os filhos recebem amor, sem discriminação.

Upeksha traz a marca chamada samatajnana, "a sabedoria da igualdade", a capacidade de ver todos como iguais, de não discriminar entre o "eu" e os outros. Em um conflito, mesmo que estejamos envolvidos, permaneceremos imparciais, capazes de amar e entender ambos os lados. Abandonamos toda a discriminação e o preconceito, removendo as barreiras entre nós e os outros. Enquanto enxergarmos a nós mesmos como aquele que ama, e o outro como aquele que é amado, enquanto dermos mais valor a nós mesmos do que aos outros, e nos considerarmos diferentes dos outros, não teremos atingido a verdadeira equanimidade. Temos que aprender a nos colocar no lugar da outra pessoa, tornando-nos unos com essa pessoa, se quisermos realmente compreender e amar o outro. Quando isso acontece, deixam de existir o "eu" e o "outro".

Sem upeksha, o amor se torna possessivo. Uma brisa de verão talvez seja refrescante, mas se tentarmos enlatar a brisa para tê-la ao nosso dispor, a brisa morrerá. Com as pessoas que amamos acontece a mesma coisa. A pessoa amada é como uma nuvem, uma brisa ou uma flor. Se você aprisioná-la em uma lata ela morrerá. Entretanto, muitas pessoas fazem exatamente isto. Tiram a liberdade de seus seres amados até o ponto onde a outra pessoa não consegue mais ser ela mesma. Vivem para satisfazer seus próprios desejos, usando o ser amado para ajudá-los a fazer isso. Isso não é amar, é destruir. Você diz que ama a pessoa, mas se não tentar entender seus anseios, necessidades e dificuldades, a pessoa viverá em uma prisão chamada de amor. O verdadeiro amor preserva a liberdade das duas pessoas, e é isso que é upeksha.

Para que o amor seja verdadeiro, precisa conter compaixão, alegria e equanimidade. Para que a compaixão seja verdadeira, deve conter alegria, amor e equanimidade. Da mesma forma, a verdadeira equanimidade precisa conter amor, compaixão e alegria. Essa é a natureza interdependente dos Quatro Pensamentos Imensuráveis. Quando Buda disse ao brâmane para praticar os Quatro Pensamentos Imensuráveis, estava nos oferecendo um ensinamento importante. Mas é preciso que tenhamos a disciplina de contemplar tudo isso e praticar por nós mesmos os quatro aspectos do amor, trazendo o ensinamento para nossas próprias vidas e para as vidas daqueles que amamos. Em muitos sutras, Buda diz que se praticarmos os Quatro Pensamentos Imensuráveis juntamente com as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, nunca mais desceremos ao reino da dor e do sofrimento (Sansara).

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh) 
FONTE:  http://sangavirtual.blogspot.com

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Os Quatro Pensamentos Imensuráveis (parte I)

No tempo de Buda, os brâmanes rezavam pedindo para que quando morressem pudessem ir para o Céu residir eternamente na companhia de Brahma, o Deus universal. Um dia um brâmane perguntou ao Buda: "O que posso fazer para ter certeza de que irei ter com Brahma quando morrer?" e o Buda respondeu: "Sendo Brahma para você a fonte de todo o Amor, para estar com ele você precisa praticar as 'Quatro Moradas de Brahma', (Brahmaviharas) ou Os Quatro Pensamentos Imensuráveis - Amor, Compaixão, Alegria e Equanimidade" (Amor em sânscrito é maitri; em páli é metta. Compaixão é karuna nas duas línguas. Alegria é mudita. Equanimidade é upeksha em sânscrito e upekkha em páli. Uma vihara é uma morada, ou um lugar de habitação). As Quatro Brahmaviharas são as quatro moradas do Amor Verdadeiro. Este é um endereço muito melhor para se morar do que um hotel cinco estrelas. É uma morada de mil estrelas. As Quatro Brahmaviharas são chamadas de "imensuráveis" porque quando são praticadas crescem todos os dias dentro de nós, até abraçarem o mundo todo. Nós nos tornamos mais felizes, e aqueles que estão ao nosso redor também se tornam mais felizes.

Buda respeitava o desejo das pessoas de praticar a própria fé, e por isso incentivou o brâmane em sua própria crença. Se você gosta de meditação caminhando, deve praticá-la. Se preferir meditação sentada, faça isso. Mas preserve suas raízes cristãs, judaicas ou muçulmanas. Esta é a melhor maneira de entrar em sintonia com o espírito de Buda. Se você cortar suas raízes, não conseguirá ser feliz. Se praticar amor, compaixão, alegria e equanimidade, saberá curar as doenças representadas por sentimentos tais como raiva, tristeza, insegurança, depressão, ódio, solidão e apegos doentios.

Alguns comentaristas dos sutras disseram que as Brahmaviharas não são o ensinamento mais elevado de Buda e que elas não conseguem colocar um fim no sofrimento nem nas aflições, mas isso não é correto. Certa vez, Buda disse a Ananda: "Ensine os Quatro Pensamentos Imensuráveis aos jovens monges, para que eles se sintam mais seguros, fortes e alegres, sem aflições no corpo ou na mente. Assim, durante toda a vida, eles estarão melhor equipados para praticar a vida pura de um monge."

Em outra ocasião, um grupo de discípulos do Buda visitava o mosteiro de uma seita vizinha, e os monges de lá perguntaram: "Ouvimos dizer que seu instrutor Gautama ensina os Quatro Pensamentos Imensuráveis do amor, compaixão, alegria e equanimidade. Nosso mestre também ensina isso. Qual é a diferença?" Os discípulos de Buda não sabiam responder. Quando voltaram ao mosteiro, o Buda lhes disse: "Quem pratica os Quatro Pensamentos Imensuráveis juntamente com os Sete Fatores do Despertar, as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo chegará sem dúvida à iluminação." Amor, Compaixão, Alegria e Equanimidade são a própria natureza da pessoa iluminada. São os quatro aspectos do verdadeiro amor dentro de nós, dentro das outras pessoas, e na verdade dentro de todas as coisas.

O primeiro aspecto do Amor Verdadeiro é justamente o Amor (maitri), que é a intenção e a capacidade de proporcionar alegria e felicidade. Para desenvolver essa capacidade, temos que praticar o enxergar e o ouvir em profundidade, para saber o que devemos fazer e não fazer para poder proporcionar felicidade aos outros. Se você oferecer à sua amada algo de que ela não precisa, isso não será maitri. Você tem que ser capaz de observar a verdadeira situação dela, senão suas ofertas correm o perigo de causar infelicidade.

No Sudeste da Ásia, muitas pessoas gostam de uma fruta grande e espinhosa chamada durian. Poder-se-ia inclusive dizer que são viciados em durian. O cheiro é muito forte, e algumas pessoas, quando acabam de comer essa fruta, colocam a casca embaixo da cama, para continuar a sentir seu cheiro. Eu, particularmente, acho horrível o cheiro de durian. Certa vez, quando eu cantava um sutra em meu templo no Vietnã, havia um durian sobre o altar, que havia sido oferecido a Buda. Eu tentava recitar o Discurso do Lótus, usando um tambor de madeira e um sino grande em forma de tigela como acompanhamento, mas tive dificuldades para me concentrar. Finalmente, levei o sino até o altar e o virei de boca para baixo por cima da fruta, para cobrir o durian, na esperança de conseguir cantar o sutra. Depois que terminei, fiz uma reverência diante de Buda e libertei o durian. Se você me dissesse: "Thây, eu o amo muito e gostaria que você comesse um pouco deste durian", eu sofreria. Se você me ama certamente vai querer que eu seja feliz, e, entretanto está me forçando a comer durian. Esse é um exemplo de amor sem compreensão. Sua intenção é boa, mas você não tem a compreensão correta.

Sem compreensão, o amor não é Amor Verdadeiro. É preciso observar em profundidade para poder enxergar e compreender as necessidades e aspirações, bem como o sofrimento daqueles que amamos. Nós todos precisamos de amor. Amor nos proporciona alegria e bem-estar. É natural como o ar que respiramos. Somos amados pelo ar, por isso precisamos de ar para ser felizes e nos sentir bem. Também somos amados pelas árvores, por isso necessitamos das árvores para nos manter saudáveis. Entretanto, para ser amados temos que amar, o que significa que precisamos compreender. Para que nosso amor possa se desenvolver, temos que escolher a ação ou a não-ação adequadas, de forma a proteger o ar, as árvores e aqueles que amamos.

Maitri pode ser traduzida como "amor" ou "bondade amorosa". Alguns mestres budistas preferem "bondade amorosa", porque acham que a palavra "amor" é uma palavra perigosa. Mas eu prefiro "amor". As palavras às vezes também adoecem, e nós temos que curá-las. Nós temos usado palavras que significam amor quando na verdade queremos dizer apetite ou desejo, como por exemplo, "eu amo hambúrgueres". Deveríamos usar a linguagem de uma forma mais cuidadosa.

"Amor" é uma linda palavra; seu verdadeiro sentido deveria ser restaurado. A palavra "maitri" tem o mesmo radical que a palavra "mitra", que significa amigo. No budismo, o sentido fundamental do amor é a amizade. Todos nós temos dentro de nós as sementes do amor. Podemos desenvolver essa fonte maravilhosa de energia, nutrindo o amor incondicional, aquele que não espera nada em troca. Quando chegamos a compreender alguém profundamente, inclusive alguém que nos prejudicou, não conseguimos deixar de amar essa pessoa. Shakyamuni Buda declarou que o Buda da próxima era se chamará "Maitreya, o Buda do Amor".

O segundo aspecto do Amor Verdadeiro é a Compaixão (karuna), a intenção e a capacidade de soltar e transformar o sofrimento, aliviando a tristeza. Karuna é geralmente traduzida como "compaixão", mas isso não é totalmente correto. "Compaixão" é uma palavra composta de com ("junto com") e paixão ("sofrimento"). Mas nós não precisamos sofrer para remover o sofrimento de uma outra pessoa. Os médicos, por exemplo, são capazes de aliviar o sofrimento de seus pacientes sem passarem eles mesmos pela doença. Se sofrermos demasiado seremos esmagados, tornando-nos incapazes de ajudar seja quem for.

Para conseguirmos desenvolver um grau maior de compaixão dentro de nós, devemos praticar a respiração consciente, e ouvir e enxergar com atenção plena. O Discurso do Lótus descreve Avalokiteshvara como o bodisatva que pratica olhando com os olhos da compaixão e ouvindo atentamente os gritos do mundo. A compaixão contém em si uma profunda preocupação pelo outro. Ao saber que o outro está sofrendo, você se senta perto dessa pessoa, observa-a em profundidade e ouve com atenção, para conseguir atingir sua dor. Isso é comunicação profunda, é comunhão com o outro, e é suficiente para proporcionar um enorme alívio a quem sofre.

Uma única palavra, ação ou pensamento compassivos de nossa parte têm o poder de aliviar o sofrimento de outra pessoa, trazendo alegria. Uma única palavra é capaz de proporcionar conforto e confiança, eliminar dúvidas, ajudar alguém a não cometer um erro, reconciliar um conflito, ou abrir a porta da libertação. Uma ação pode salvar a vida de alguém ou ajudar essa pessoa a aproveitar uma oportunidade rara. Um pensamento também tem o mesmo poder, porque os pensamentos sempre conduzem a palavras e ações. Quando existe compaixão no coração, qualquer pensamento, palavra ou ação são capazes de produzir milagres.

Quando eu era noviço, não conseguia entender por que o Buda tem um sorriso tão lindo se o mundo está repleto de sofrimento. Será que ele não se incomoda com tanta dor? Mais tarde, descobri que Buda tem em si grandes quantidades de compreensão, calma e força, razão pela qual o sofrimento do mundo não o aniquila. Ele consegue sorrir para o sofrimento porque sabe lidar com ele e transformá-lo. Precisamos ter consciência do sofrimento que existe no mundo, mas sem perder nossa clareza, nossa calma e nossa força, para que possamos ajudar a transformar as situações. Um oceano de lágrimas não nos afogará desde que haja karuna (compaixão). É por isso que o sorriso do Buda é possível.

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)
FONTE: http://sangavirtual.blogspot.com