Thich Nhat Hanh nasceu Nguyen Xuan Bao em 1926 no Vietnã Central durante a ocupação colonial francesa. Em sua juventude, ele foi profundamente afetado por imagens do Buda irradiando a paz em contraste gritante com o conflito e sofrimento que testemunhava ao seu redor. Aos 16 anos pediu permissão aos seus pais para se tornar um monge e entrou para o Monastério Tu Hieu em Hue, sendo ordenando monge noviço na escola Linji (japonês: Rinzai) da tradição Zen vietnamita.
O treinamento fundamental de um noviço no Vietnã é essencialmente a prática de estar presente em cada momento e fazer o que se está fazendo com plena consciência. Nhat Hanh viveu entre as florestas e jardins de Tu Hieu com sua comunidade de irmãos monges, estudando e praticando sob a orientação do abade, um sábio e experiente professor que amava e entendia seus alunos.
Depois de três anos, Nhat Hanh deixou Tu Hieu para frequentar o Instituto budista em Hue. Ele então foi para Saigon, o centro do movimento de renovação do budismo que buscava torná-lo relevante para a vida cotidiana das pessoas e para a realidade da sociedade moderna. Ele ajudou a fundar a Universidade Van Hanh, um instituto de estudos budistas mais elevados e se tornou o editor do jornal Budismo Vietnamita, que deu aos pensadores budistas criativos uma voz e encorajava a unificação de todas as escolas do budismo no Vietnã.
O diário foi encerrado depois de dois anos pela liderança budista conservadora. Nhat Hanh continuou a ensinar e escrever e seus escritos continuaram a ter oposição da liderança budista e do regime cada vez mais repressivo e ditatorial.
Em 1962 Nhat Hanh foi para os EUA estudar religião comparada na Universidade de Princeton. Em 1963 teve oferta de um cargo de professor na Universidade de Columbia. Após a queda do regime Diem em 1963, a liderança budista estava mais aberta à reforma, por isso Nhat Hanh abreviou a sua estadia nos EUA e regressou ao Vietnã em 1964 para ver a realização de um sonho, a fundação da Igreja Budista Unificada, que reuniu todas as várias congregações budistas do Vietnã.
A guerra no Vietnã continuou a escalar, causando mais e mais caos e devastação nas cidades e no campo. Aldeias inteiras foram destruídas, resultando em muitos refugiados. Em 1964, Nhat Hanh fundou a Escola de Jovens para o Serviço Social (SYSS), treinando jovens trabalhadores sociais, tanto monásticas como leigos, para entrar em aldeias, viver entre as pessoas, ajudá-las a reconstruir e reorganizar suas aldeias e ajudar os refugiados a se deslocar. Como Nhat Hanh e os trabalhadores SYSS se recusavam a escolher qualquer lado que não o lado de ajudar as pessoas, foram vistos com suspeita tanto pelas forças comunistas como pelas pró-americanas.
Mas o seu amor, dedicação e forma ética de trabalhar ganhou o coração de muitas pessoas. Muitos estudantes, amigos e colegas de Nhat Hanh foram mortos ou feridos durante este tempo. À medida que a guerra continuava a intensificar-se, Nhat Hanh decidiu voltar à fonte da guerra, viajando para Washington para pedir a paz, iniciando uma turnê norte-americana para informar às pessoas nos Estados Unidos sobre os efeitos devastadores da guerra contra o povo do Vietnã.
Foi nessa época que Nhat Hanh conheceu e provocou uma profunda impressão no monge trapista Thomas Merton, no Secretário de Defesa Robert McNamara e no Dr. Martin Luther King Jr., que mais tarde o indicou para o prêmio Nobel da Paz. Quando o governo do Vietnã do Sul ouviu falar nessas atividades, se recusou a deixar que Nhat Hanh voltasse para o Vietnã e ele se tornou um exilado no ocidente, posteriormente se estabelecendo na França.
Este foi um momento solitário e difícil para Nhat Hanh. Não havia muitos vietnamitas fora do Vietnã na época. Todos que ele conhecia, seu trabalho e seus alunos estavam no Vietnã. Mas gradualmente ele veio a conhecer as pessoas, árvores, pássaros, os frutos e flores do ocidente.
Ele fez amizade com adultos e crianças em cada país onde se encontrava e começou a se sentir em casa em todos os lugares. Onde quer que fosse, fazia amizade com as pessoas, quer fossem sacerdotes católicos, ministros protestantes, rabinos, imãs, ou trabalhadores humanitários ou comerciais. Nhat Hanh continuou a fazer viagens para palestras na América do Norte, Europa e Ásia, partilhando os seus métodos de prática e dando voz ao desejo do povo vietnamita pela paz. Em 1969 ele se tornou o representante da delegação de paz budista nos acordos de paz de Paris e foi capaz de expressar o desejo do povo vietnamita por um fim à guerra.
O fim da guerra chegou finalmente em 1975, mas o regime comunista, o novo governo do Vietnã, também não estava disposto a permitir que Nhat Hanh voltasse para casa. A Igreja Budista Unificada foi banida e muitos de seus principais monges foram aprisionados. Em 1976, enquanto estava em uma conferência em Singapura, ele ouviu falar da situação dos “Boat People”, refugiados vietnamitas que tinham deixado seu país de barco. Muitos deles morriam no mar. Ao navegar em barcos com pouca ou nenhuma comida e água, eles estavam à mercê de tempestades e dos piratas do mar. Se finalmente chegassem à costa, eram frequentemente empurrados de volta para o mar, porque muitos países não aceitavam “Boat People” ou tinham quotas muito baixas para aceitar os refugiados.
Nhat Hanh e seus colegas alugaram barcos e juntamente com amigos da Europa, trouxeram comida e água para os “Boat People”, tentando fazer acordos com todos, de pescadores e policiais a funcionários do governo, a fim de encontrar um lugar para o “Boat People” em terra. Ao mesmo tempo, fazia esforços para informar ao mundo a situação dos refugiados em uma tentativa de influenciar os governos ao redor do mundo para aumentar suas quotas e permitir que os “Boat People” pudessem reassentar.
Após o seu regresso de Singapura, Nhat Nham continuou a viver na França, mas também liderava retiros e a partilhava os seus ensinamentos em muitos países. Ele continuou a apoiar os trabalhos sociais no Vietnã e trabalhar para a libertação de monges presos. Ele fundou um monastério, a Comunidade da Batata Doce (“Sweet Potato Community”), fora de Paris, onde caminhava na floresta, plantava legumes, escrevia e praticava.
Quando o local se tornou pequeno para o número de estudantes que queriam ir e praticar com ele, Nhat Hanh fundou Plum Village em 1982, um centro de prática e um monastério no sudoeste da França, onde ainda vive. Existem atualmente nove centros de prática e monastérios em todo o mundo, nos EUA, Europa, Ásia e Austrália, onde seus alunos monásticos, hoje mais de 600, compartilham práticas de plena atenção no que agora é conhecido como a tradição de Plum Village. Há também mais de 1.000 sanghas leigas, comunidades de pessoas que praticam juntas, em todo o mundo.
Em 2004, o governo vietnamita convidou Nhat Hanh para visitar o Vietnã depois de quase 40 anos de exílio. Durante sua visita de três meses em 2005, ele liderou retiros para monges, monjas e leigos — principalmente jovens de toda parte do mundo. Ele teve conversas profundas com os líderes da comunidade budista, bem como com os líderes do governo e do partido comunista. Ele retornou novamente em 2007, desta vez para liderar cerimônias para louvar aqueles que tinham morrido na guerra e para trazer paz, cura e reconciliação aos sobreviventes, de forma que seu sofrimento não fosse passado para as gerações mais jovens. Ele visitou o Vietnã pela última vez em 2008.
Nhat Hanh continuou a viajar incansavelmente por todo o mundo para ensinar e liderar retiros até 2014, quando sofreu um derrame grave. Em uma extraordinária vida de ensino abrangendo 65 anos, Nhat Hanh, ensinou centenas de milhares de pessoas, em todos os continentes e de todas as camadas sociais. Ele conduziu retiros para famílias, trabalhadores de saúde, pessoas de negócios, veteranos, jovens, psicoterapeutas, professores, artistas, ambientalistas, membros do Congresso americano, e parlamentares. Muitos destes estudantes e amigos referem-se a Nhat Hanh com carinho, como "Thay", que significa "professor" em vietnamita. Em seu aniversário de 80 anos, quando perguntado se ele planejava se aposentar, Thich Nhat Hanh disse, "O ensino não é feito por falar somente. É feito por como você vive sua vida. A minha vida é o meu ensinamento. Minha vida é a minha mensagem. “
(Trecho do livro de Thich Nhat Hanh – At Home on the World)
(Tradução – Leonardo Dobbin)
Nenhum comentário:
Postar um comentário