Quando estamos com muito medo, geralmente estamos totalmente focados em impedir o evento que tememos, e nos esquecemos de que a alegria também é possível, mesmo em um mundo imprevisível. Acreditamos que precisamos obter um determinado diploma ou carreira para estar seguros e ser um sucesso.Existem pessoas que são vítimas desse tipo de sucesso. Elas conseguem as coisas que trabalharam arduamente para conseguir, e depois se acham aprisionadas em formas que não tinham antecipado. Mas ninguém jamais é vítima da sua felicidade.
Muitos de nós vivem em comunidades onde todos têm um teto para se abrigar e comida suficiente para comer, e ninguém está com medo de bombas caindo sobre nós; no entanto as pessoas continuam sofrendo. Isto se dá porque esquecemos ou perdemos nossa aspiração mais profunda.
Muitos de nós labutam até o fim da vida sem consciência da sua atenção ou intenção. Estabelecemos uma trajetória para nós e seguimos em frente, sem parar para questionar se esse caminho está satisfazendo os nossos objetivos mais importantes. Em parte, isso acontece porque muitos de nós acreditamos que a felicidade não é possível no aqui e agora. Pensamos que precisamos lutar agora para poder ser feliz no futuro. Por isso, adiamos a felicidade e tentamos correr em direção ao futuro e alcançar as condições de felicidade que agora não temos.
Se você inspira e traz sua mente para a casa do seu corpo, poderá reconhecer imediatamente as inúmeras condições de felicidade que você já tem. Você pode examinar detalhadamente sua verdadeira aspiração e ter uma sacada: "Eu não preciso correr em direção ao futuro para ser feliz". Todos nós temos o hábito de correr. Esse hábito cria tensão, não só no corpo, como também na mente, e é a nossa maior fonte de sofrimento.
Muitos de nós acreditamos que só podemos ser felizes se tivermos muito poder, fama, riqueza e prazeres sensuais. Mas quando olhamos à nossa volta, vemos que há pessoas que têm essas coisas em abundância, mas não estão felizes. Esses objetos de desejo não são condições reais de felicidade. Contemplando profundamente, podemos reconhecer esta energia do hábito de correr, e imaginar como as coisas seriam se não mais deixássemos esta energia nos impelir para correr.
Todo mundo tem volição, uma forte motivação que nos estimula e que, quando é saudável, nos traz alegria. Quando eu tinha doze anos, eu sabia que queria ser monge. Aos dezesseis anos de idade, eu deixei minha mãe e minha família para me ordenar como um noviço. Eu amava muito minha mãe. Por um lado, eu queria estar perto dela. Por outro lado, eu sabia que minha maior felicidade era viver como um monge. Eu tive que sacrificar os bons tempos que passaria com a minha mãe e estava trista com isso; mas não permiti que qualquer medo de perda me impedisse, porque eu sabia que eu estava no caminho de realizar minha verdadeira aspiração.
Se não tivermos nos permitido parar, voltar para nossa casa interior e contemplar profundamente, pode ser que não saibamos o que nos traz nossa felicidade mais profunda. Talvez estejamos trabalhando muito para ter sucesso numa área, mas a nossa aspiração mais profunda seja trabalhar em outra área ou ajudar pessoas de outra forma. Precisamos parar e nos questionar: "Será que posso realizar a minha aspiração mais profunda se eu prosseguir nesse caminho?" "O que realmente está me impedindo de tomar o caminho que desejo mais profundamente?".
Do livro de Thich Nhat Hanh - "Sem Lama Não há Lótus".
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