Depois de algumas semanas praticando
o “tomar conta de nós mesmos”, nos sentiremos muito melhor. Então podemos dar o
segundo passo e ir para nosso parceiro, amigo ou colega de trabalho para tomar
conta dele. Temos que tomar conta de nós mesmos antes que possamos amar e tomar
conta de alguém. Podemos amar nossos entes queridos tomando conta de seu
sofrimento, mas não antes de podemos tomar conta de nós mesmos.
Quando pudermos tomar conta bem de
nós mesmos, poderemos mais claramente ver que aqueles que amamos estão também
sofrendo. Eles têm suas próprias dificuldades. Estender a mão para nosso
parceiro, colegas ajudará a fortalecer nossas próprias habilidades como pais e
professores.
Muitos de nós não têm mais a
capacidade de ouvir e usar palavras amorosas. Nos sentimos muito sozinhos,
mesmo na nossa própria família. Quando a comunicação é cortada, todos sofremos.
Quando ninguém nos ouve ou nos entende, tornamo-nos uma bomba prestes a
explodir.
Ouvir profundamente e de forma
compassiva pode curar a situação. Às vezes apenas dez minutos ouvindo
atentamente podem nos transformar e trazer um sorriso de volta para nossos
lábios. Precisamos também nos treinar para usar a fala amorosa de forma que
possamos restaurar a harmonia, o amor e a felicidade.
Perdemos nossa capacidade de dizer
as coisas calmamente e de falar com gentileza. Ficamos irritados muito
facilmente. Talvez ambos, você e seu parceiro, tenham sofrido nos últimos anos.
Parece que ambos perderam sua capacidade de ouvir profundamente, um ao outro,
com compaixão. Como há muita dor, sofrimento e violência em você, é difícil
ouvir com compaixão e paciência. Como os blocos de sofrimento são muito
grandes, mesmo que você queira usar a fala amorosa, ficou muito difícil. Você pretende
falar calmamente, mas assim que você começa a falar para a outra pessoa o que
está no seu coração, se torna amargo e crítico.
Isto faz com que se torne mais
difícil para o outro te ouvir. Aprender a ouvir calmamente e compassivamente e
usar fala pacífica e amorosa é muito importante. Estes dois instrumentos são
necessários para restabelecer a comunicação.
Depois de praticar a respiração
atenta, olhar em profundidade para a situação e reconhecer que você contribuiu
para criar a situação difícil entre vocês, você pode se dirigir até a outra
pessoa. Com sua presença plena, diz a ela em uma linguagem amável: “
Querido(a), sei que você sofreu muito nos últimos três ou quatro anos. Eu sou
também parcialmente responsável por este sofrimento. Eu não entendia o bastante
de seu sofrimento e de suas dificuldades, por isso eu cometi muitos erros na
minha fala e nas minhas ações. Não pretendo fazer você sofrer. Eu fiz e disse
estas coisas devido à minha falta de habilidade. Eu apenas queria fazer você
feliz, mas como não sabia o suficiente sobre seu sofrimento e dificuldades
cometi muitos erros. Eu realmente quero ouvir o que há no seu coração. Por
favor me fale de seu sofrimento, suas dificuldades, seu desejo mais profundo.
Por favor me ajude para que possamos ser felizes de novo.” Se você puder falar
com este tipo de linguagem, a porta do coração da outra pessoa se abrirá
novamente.
Quando a outra pessoa compartilhar
com você, diga a si mesmo que o único propósito de ouvir é permitir que ela
alivie seu sofrimento. Não importa o que ela diga, você ouvirá. Em uma relação,
podemos ter percepções errôneas um do outro a cada dia. Quando você ouve a
pessoa amada, reconhece quantas percepções errôneas ela tem de você, e você
pode reconhecer que você também tem percepções errôneas dela.
Mas você continua apenas a ouvir.
Você não reage. Depois você pode oferecer informações que pode curar as
percepções equivocadas, mas não agora. Talvez em alguns dias você possa
compartilhar informações para ajudar a outra pessoa a alterar suas percepções,
mas não muito de uma só vez para que ela possa pegar tudo. Compartilhe
informações aos poucos de forma que a outra pessoa tenha a capacidade de
receber e corrigir suas percepções erradas.
Mesmo se a outra pessoa expressar
muito amargor, percepções erradas, julgamentos e condenação, você continua a
ouvir com compaixão. Manter a compaixão viva enquanto você ouve é uma arte, a
para conseguir isso você tem que lembrar da pratica da plena atenção. Uma hora
de escuta assim já poderá ajudar a pessoa a sofrer menos.
Compaixão te protege de forma que o
que a outra pessoa disser não irá tocar a semente da irritação ou raiva em
você. Você ouve como a bodisatva, ou grande ser, de compaixão. Esta é a
técnica. O bodisatva da compaixão não está em algum lugar no céu. O bodisatva
da compaixão está em cada célula de seu corpo. Se você sabe como tocá-lo, ele
irá expressar a si mesmo e ficar no seu coração durante o tempo da escuta
profunda.
Quando você puser todo o seu coração
nisto, poderá ouvir melhor até mesmo que um psico-terapeuta. Se a pessoa amada
sofre, não há modo de você ser feliz, portanto invista cem por cento no ato de
ouvir. Mantenha a compaixão viva no seu coração durante todo o tempo da escuta.
Se você sentir que não é forte o suficiente para escutar, não se force. Diga a
sua pessoa amada, “ Querido(a), não estou bem hoje. Podemos sentar juntos outro
momento de forma que eu possa te escutar com todo o meu coração?” Então você
pode sair e praticar a meditação caminhando e a respiração atenta para obter
mais força para ter sucesso na prática da escuta profunda.
Se não estamos conscientes de nossas
relações, podemos dizer ou fazer coisas que podem criar sofrimento para a outra
pessoa. Pode ser um pequeno grão de sofrimento que pensamos que não vale a pena
comentar, mas pensar dessa maneira é muito perigoso.
Dia após dia, o sofrimento continua
a crescer, e então um dia, você não consegue mais olhar para a outra pessoa com
felicidade. No início seu amor é tão bonito. Você apenas quer olhar para sua
amada todo o dia. Apenas olhar para ela te traz muito prazer. Mas agora quando
você olha para ela, não sente mais alegria, e ao invés disso podem ambos olhar
para a televisão para evitar se olharem. Esta é uma falha na relação. Podemos
sempre fazer algo para ajudar ambos a redescobrir nosso amor.
A melhor maneira de encorajar a
outra pessoa a usar a fala amorosa é praticarmos nós mesmos. Quando praticamos
a fala amorosa, nos beneficiamos; experimentos felicidade, e lentamente a outra
pessoa reconhece o poder e a efetividade da fala amorosa.
Ao confrontar uma situação de
injustiça ou opressão, você pode usar também a fala amorosa porque é o único
tipo de fala que pode alcançar a outra pessoa ou grupo. Se você insultar,
reprovar ou condenar alguém, eles não irão te ouvir. Você perderá sua energia e
não levará a lugar nenhum.
Uma vez que você tenha sucesso em
transformar sua raiva, medo e tristeza, poderá ajudar a transformar o seu
amado. No passado você pode ter tentado, mas não teve sucesso porque ainda não
tinha mudado. Agora que você se transformou, pode inspirar seu amado a fazer o
mesmo.
(Do livro “Planting Seeds” – Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
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