domingo, 4 de agosto de 2013

Um Pouco do Mestre

Muito divulgamos os notáveis e inspiradores textos do Mestre Thich Nhat Hanh, que é carinhosamente chamado de Thay, textos estes que nos conduzem a uma profunda análise do comportamento humano, de como somos e a forma como nossos sentimentos contribuem e ou nos impedem de buscar o real sentido da vida ou nossa natureza desperta. Ensina como trabalhar nossos medos, nossa raiva e nossas aflições. E de maneira muito simples e amável Thay nos mostra um caminho, que é de sabedoria, felicidade e generosidade. Porém, pouco se sabe sobre este extraordinário e respeitável disseminador do Budismo Engajado e maior incentivador ao desenvolvimento da compaixão e da propagação da não-violência. Estar em “Plena Consciência” é o primeiro passo para que meditemos de forma diligente e sintamos as mudanças à nossa volta.
E já que Budismo significa estar consciente, estar desperto para o que está acontecendo com nosso próprio corpo, nossos sentimentos e nossa mente, bem como também com o mundo que nos cerca, achamos necessário mostrar um pouco sobre a vida de Thich Nhat Hanh, para que se entenda melhor o Despertar de Consciência que ele adquiriu ao longo de sua extraordinária jornada pelo caminho da extinção do sofrimento e da busca da felicidade.
                                                                    ...

Quando foi convidado para o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça em janeiro de 2001, Thich Nhat Hanh discutiu juntamente com outros importantes líderes religiosos do planeta, como os valores espirituais poderiam ser usados para ajudar a resolver questões globais.
Diante de aproximadamente trinta chefes de Estado, duzentos dos homens e mulheres mais ricos do mundo e de alguns milhares dos mandachuvas mais influentes da atualidade, Thay falou com amor, compaixão e total destemor. Ele não estava presente para buscar o apoio ou a aprovação das pessoas importantes e famosas, e sim na esperança de despertar o que havia de melhor nelas, de ajudá-las a mudar o mundo entrando em contato com o verdadeiro Eu que existe dentro delas.
Em uma reunião dedicada à riqueza, à influência e ao poder em todas as fabulosas manifestações, ele falou em um tom suave e tranqüilo. Não pediu nada àquelas pessoas, apenas solicitou-lhes que sempre se lembrassem da condição humana que compartilhavam. O Fórum Econômico Mundial exibia orgulhosamente na sua web site o seguinte lema: “Emprenhados em Melhorar a Condição do Mundo”. Naquele dia em Davos, Thay pediu a todos que adotassem o lema: “Empenhados em Melhorar a Condição de Cada Coração”.
Thich Nhat Hanh passou sua vida falando a verdade para o poder e para os importantes. Ele é um revolucionário determinado, não alguém que nos pede para escalar com raiva os baluartes e sim um revolucionário do espírito humano, da compreensão e do amor. Nascido em 1926, Thay foi criado no Vietnã, um dos países mais devastados pela guerra no século XX. Juntou-se aos monges budistas aos 16 anos, sendo ordenado. É um dos mestres do zen-budismo mais conhecidos e respeitados no mundo de hoje. Desde o início, ele foi àquela pessoa rara capaz de se dedicar a várias vocações e se distinguir em todas elas. Simultaneamente foi monge budista, erudito, poeta, escritor, reformista e ativista social da paz e dos direitos humanos. E fez tudo isso quando jovem, em uma época e lugar de imensurável tumulto e sofrimento.
E foi por ocasião da Guerra do Vietnã, que mosteiros se defrontaram com a questão de aderir ou não, exclusivamente, à Vida Contemplativa e continuar a meditar nos mosteiros, ou ajudar a população que sofria sob bombardeios e outras devastações da guerra. Thich Nhat Hanh foi um dos que optaram por fazer as duas coisas, ajudando a fundar o movimento do Budismo Engajado. Desde então, tem dedicado sua vida ao trabalho da transformação interior para o benefício dos indivíduos e da sociedade.
Sobreviveu à invasão japonesa da sua terra natal em 1941, ao retorno dos franceses no fim da Segunda Guerra Mundial, à guerrilha que se seguiu e se tornou o que é hoje conhecido no Vietnã como a guerra americana e nos Estados Unidos como a guerra do Vietnã. Na qualidade de reformista e ativista, ajudou a fundar muitas instituições pioneiras, entre elas o An Quang Buddhist Institute, que se tornou um dos principais centros de estudos budistas no Vietnã do Sul e a La Boi Press, que se estabeleceu como uma das editoras mais prestigiosas do país. Fundou também a Escola de Jovens para o Serviço Social, chamada de “O Pequeno Corpo da Paz” pela imprensa America.
Durante os piores anos da guerra, ele e a sua assistente, irmã Chan Khong, arriscaram a vida ao lado de milhares de outros jovens, incluindo monges e monjas budistas, indo para o interior fundar escolas e clínicas médicas, bem como para reconstruir povoados destruídos pelas batalhas.
Em Saigon, no início dos anos 60, Thich Nhat Hanh fundou a Escola de Serviço Social da Juventude, uma organização de apoio popular que passou a se dedicar à reconstrução de aldeias bombardeadas, criação de escolas e centros médicos, reassentamento de famílias desabrigadas, e organizando as cooperativas agrícolas. Reunindo cerca de 10.000 estudantes voluntários, a organização baseou o seu trabalho nos princípios budistas da não-violência e ação compassiva. Durante esse período, Thich Nhat Hanh também fundou uma editora e uma revista influente de ativismo da paz no Vietnã, da qual foi redator-chefe da publicação oficial da Igreja Budista Unificada e autor de numerosos livros de poesia, de psicologia budista e de comentários sociais, apesar da denúncia pelo governo de suas atividades, Thay também fundou uma Universidade Budista.
Em 1966, viajou para os Estados Unidos e Europa para preconizar uma missão de paz. Durante a viagem, fez um discurso para o público americano a fim de “descrever as aspirações e a agonia das massas vietnamitas que podiam opinar”, com isso, foi proibido de retornar ao Vietnã. Em outras viagens aos Estados Unidos, Thich Nhat Hanh elaborou um processo de paz para as autoridades federais e do Pentágono, incluindo Robert McNamara. Acredita-se que ele pode ter mudado o curso da história dos EUA, quando persuadiu Martin Luther King a se opor publicamente à Guerra do Vietnã, pois fez um discurso famoso na Igreja Riverside em Nova York, o primeiro a questionar o envolvimento dos EUA no Vietnã, sendo que isso ajudou a galvanizar o movimento pela paz.
No ano seguinte (1967), Luther King o indicou para o Prêmio Nobel da Paz, dizendo o seguinte: “Eu pessoalmente não conheço ninguém mais digno para este prêmio, do que este monge gentil do Vietnã. Suas idéias de paz, se aplicadas, poderiam construir um monumento para o ecumenismo, a fraternidade mundial, a humanidade”. O fato de Luther King ter revelado seu desejo e ou mencionado que o candidato havia sido escolhido e de ter feito um "forte pedido" para o comitê do prêmio, violando assim, as regras e tradições do protocolo, o comitê decidiu por não fazer o prêmio naquele ano.
Posteriormente, Thich Nhat Hanh chefiou a delegação budista nas Conversações de Paz de Paris. Em 1969, conduziu a Delegação Budista da Paz à Conferência da Paz em Paris, organizada para negociar o fim da guerra do Vietnã.
Em 1973, devido ao seu trabalho em prol da paz, teve novamente negada a permissão para voltar para casa. No entanto, o exílio não o deteve. E durante os últimos quarenta anos em que viveu no Ocidente, consolidou-se como um dos líderes espirituais mais influentes e respeitados do mundo. Thich Nhat Hanh deu continuidade ao seu ativismo social, apoiando mais de cem escolas e programas de melhoramento de povoados na sua terra natal. Também continuou a se envolver com movimentos sociais e defensores da paz ao redor do mundo, falando sobre uma grande variedade de assuntos, desde a AIDS à guerra do Iraque. Tendo mais de cem livros publicados em mais de trinta idiomas e uma programação permanente de ensino e o seu impacto continua a crescer no mundo inteiro.
Em 1982, a partir do seu eremitério no sudoeste da França, fundou Plum Village, uma comunidade budista (Sangha), onde continua seu trabalho para aliviar o sofrimento dos refugiados, de presos políticos e famílias famintas do Vietnã e de todo o Terceiro Mundo. Também recebeu o reconhecimento por seu trabalho com os veteranos do Vietnã. Desenvolve retiros de meditação e escritos sobre a consciência, atenção plena e paz.  Ensina a prática dos Cinco Treinamentos da Mente Alerta e os Quatorze Treinamentos da Plena Consciência, a tomar Refugio nas Três Jóias e etc. Já foram publicados cerca de 100 títulos de sua obra, tais como poemas, prosas, orações e psicologia budista, com mais de 40 títulos em Inglês e mais de 20 em português.
Ele continua a viver em Plum Village, onde ensina, escreve e conduz retiros para o mundo todo, através da “Arte de Viver Consciente”. Dirige numerosas comunidades (Sanghas) de monges, monjas e leigos nos cinco continentes. Um dos principais ensinamentos de Thich Nhat Hanh é que “através da plena consciência, podemos aprender a viver no momento presente, em vez de nos apegarmos ao passado ou futuro. E residindo no momento presente é a única maneira de realmente desenvolver a paz, em si mesmo e no mundo”.
Em 2005, após longas negociações, Thich Nhat Hanh conseguiu voltar à sua terra natal, o Vietnã, pela primeira vez em 39 anos.

Alguns dos títulos em língua portuguesa que podemos encontrar:
·  Caminhos para a Paz Interior
·  Flamboyant em Chamas
·  Meditação Andando
·  Respirando e Sorrindo (Solaris)
·  Vietnã — Flor-de-lótus em Mar de Fogo (Ed. Paz E Terra)
·  O Coração da Compreensão (Ed. Bodigaya)
·  Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta (Ed. Vozes) - 1976
·  Paz a Cada Passo: Como Manter Sua Mente Desperta no Seu Dia-a-dia (Ed. Rocco) - 1990
·  Vivendo em Paz - Como Praticar a Arte de Viver Conscientemente (Ed. Pensamento) - 1992
·  O Sol Meu Coração - Da Atenção à Contemplação Intuitiva - 1995
·  Cultivando a Mente do Amor - 1996
·  Vivendo Buda, Vivendo Cristo (Ed. Rocco) - 1997
·  Jesus e Buda, Irmãos (Ed. Bertrandi Brasil) - 2002
·  Aprendendo a Lidar com a Raiva - Sabedoria Para A Paz Interior (Ed. Sextante) - 2003
·  Ensinamentos sobre o Amor (Ed. Sextante) - 2005
·  Velho Caminho, Nuvens Brancas: Seguindo as Pegadas do Buda (Bodhgaya) - 2007
·  A Arte do Poder
·  Corpo e Mente em Harmonia: Andando Rumo à Iluminação (Ed. Vozes) - 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário