domingo, 7 de abril de 2013

A Essência do Budismo (Parte I)


“Somos o que pensamos.
Tudo o que somos, surge com nossos pensamentos,
Fazendo assim o nosso Mundo.
(Buda)


Antes de tratarmos especificamente do conjunto de ensinamentos do Buda Shakyamuni (que é o estudo do Dharma) vamos procurar difundir inicialmente o entendimento sobre: Quem foi o Buda Histórico Siddhartha Gautama; O que é o Budismo e suas vertentes; Como são os ensinamentos Budistas e esclarecer algumas questões e ou questionamentos acerca do Budismo e sua prática.

Quem foi Buda?
 
Há cerca de 2.500 anos (por volta dos séculos VI-V a.C.), ao norte da Índia, próximo ao atual Nepal, vivia o clã dos Sakyas, que era governado pelo rei Sudodhana e a rainha Maya de Kapilavasthu.
Esta estando grávida e de acordo com os costumes da época, uma mulher que estivesse para ter um filho, deveria retornar à casa dos pais. Durante a viagem, a comitiva parou num jardim chamado Lumbini, para um breve descanso. Mas, enquanto a rainha repousava embaixo de uma árvore começou sentir dores e entrou em trabalho de parto. Em seguida deu à luz a um menino.
Uma semana após o nascimento do príncipe, sua mãe, a rainha Maya adoecia e morria. A partir daí o menino passaria a ser criado pela Princesa Prajapati e deram-no o nome de Siddharta Gautma. (Siddharta significa "desejo satisfeito").
Siddharta foi um menino como outro qualquer, cheio de energia e ambição. Recebeu a melhor educação possível na época, por ser um príncipe herdeiro. Dentre os cavaleiros, era o melhor, excelente arqueiro e lutador, bem como gênio mental, onde o seu entendimento e amor tornaram-se perfeitos, e todos no mundo reconheceram isso.
Ao crescer e muito jovem ainda, começou a se interessar em descobrir a causa de todos os sofrimentos da vida. Acabou por ver que a vida continha muito sofrimento; que as pessoas não amavam umas às outras; não se compreendiam suficientemente. Foi então perdendo o interesse pelos esportes e pela política e, apesar do pedido do pai, para que assumisse o trono, abandonou o belo palácio e tornou-se um buscador da verdade.
Tinha então 29 anos, quando deixou seu lar renunciando uma vida de luxo e riquezas e foi para a floresta praticar meditação, respiração e sorriso, como forma de buscar o fim do sofrimento.
Percorreu todo o país nos seis anos seguintes, procurando mestres e ensinamentos através dos quais pudesse resolver os muitos problemas da vida. Primeiro, foi aos Brâmanes e tentou, com sua filosofia, resolver os problemas humanos. Depois estudou com um grupo de ascetas, adotando uma vida severa e contemplativa a fim de desenvolver seu despertar, sua compreensão e amor no mais alto nível. E assim ele prosseguiu, durante seis anos, estudando todas as escolas de religião e filosofia; inutilmente, no entanto. Nenhuma daquelas escolas lhe oferecia uma resposta satisfatória.
Certo dia, depois de banhar-se nas águas do Nairanjana, sentou-se sob uma figueira (Bodhi Tree) e meditou... e ali, após aqueles muitos anos de observação e experiência, com então 35 anos, finalmente descobriu a verdade, alcançou a iluminação ou despertar e a partir de então, ele passou a ser conhecido como o Buda — o Desperto, o Iluminado, o Buda Histórico ou Buda Shakyamuni, — e se dedicou ao ensinamento do caminho que conduz ao Despertar.
Durante 45 anos, ensinou o Caminho de Vida que ele próprio encontrara. Foi um filósofo, psicólogo e líder espiritual prático e realista. Foi o primeiro a negar o sistema de castas, dizendo que um homem deve ser julgado por suas qualidades e não por seu nascimento. Portanto, contra o forte conformismo de sua época, foi corajoso o bastante para denunciar o rígido sistema de castas da Índia. Foi contra os complexos rituais religiosos daqueles dias; aboliu os conceitos antropomórficos e não acreditava na ideia dualística de um “EU” ou alma independente, enquanto entidade separada. Explicou que todas as coisas estão relacionadas umas às outras pela Lei de Causa e Efeito.
No fim de sua vida, aos 80 anos, o Buda entrou em Paranirvana, a Liberação Final, a Paz Suprema.
"Buda" é um termo sânscrito que significa "O Iluminado". Buda não é uma estátua. Buda não foi uma divindade ou um ser extraterreno, nem qualquer espécie de Deus, nem um Profeta como há em muitas outras religiões. Buda foi um homem que encontrou A Verdade, viveu e ensinou essa Verdade.  Buda é um Estado de Vida, o maior Estado de Vida, onde manifestá-lo, nos enche de sabedoria, coragem, benevolência e compaixão.

O quê é o Budismo?
Ao contrário do pensamento comum, o Budismo não é somente uma religião e sim uma psicologia ou ciência da mente e uma filosofia de vida. O Budismo não tem uma definição, tendo aquela que qualquer praticante lhe queira atribuir, contudo poderemos denominá-la de Caminho de Crescimento Espiritual, através dos ensinamentos dos Budas.
Todos os seres sencientes têm a mesma intenção primordial - serem felizes e livrarem-se do sofrimento. Até mesmo os recém-nascidos, os animais, plantas e insetos têm esse desejo. É a nossa intenção, desde tempos sem inicio e isto está presente em nós o todo o tempo, mesmo quando estamos dormindo. Nós desperdiçamos todo o trabalho da nossa vida para realizar esta intenção.
Cada vez mais os seres humanos gastam tempo e energia desenvolvendo condições externas na sua busca pela felicidade e pela resolução dos seus problemas. Qual é o resultado disto? Em vez de vermos os nossos desejos satisfeitos, o sofrimento dos seres humanos cresce a cada dia que passa, ao contrário da felicidade e da paz, que a cada dia diminui mais e mais. Isto nos mostra claramente que precisamos encontrar um método válido, um veículo, para realizar felicidade pura e permanente e nos libertar do sofrimento e insatisfações.
Todos os nossos problemas e todos os nossos sofrimentos são criados por mentes descontroladas e ações não-virtuosas. Através da prática do Dharma nós podemos aprender a pacificar e controlar estes estados mentais. Para isto, Buda nos apresentou 84.000 ensinamentos, cada um referente a uma doença mental. Ensinando que a nossa vida humana é extremamente preciosa e rápida para nos preocuparmos com atividades fúteis e nefandas. Para contrapor tais atividades devemos desenvolver paz, calma e sabedoria, para nos abstrairmos dos Três Venenos (ignorância, auto-apego, e raiva), de modo a eliminar o nosso Karma negativo, sairmos da Roda de Samsara (o ciclo que rege nossa existência) e atingir felicidade permanente e a verdadeira cessação de todos os nossos sofrimentos (insatisfações).
Existem vários tipos de Budismo, consoante a aspiração de cada pessoa. Existem três tipos principais de Budismo, o Hinayana, o Mahayana, e o Vajrayana.
- No Hinayana, ou Pequeno Veículo, o praticante tem como motivação e objetivo a iluminação para bem próprio. Tentando cessar o seu sofrimento pessoal. O culminar deste caminho será a cessação de Samsara e a obtenção do estado de Arhat (respeitável/perfeito, que se caracteriza pela erradicação dos “ashrava”, um grupo de impurezas básicas e delírios que são as causas dos repetidos renascimentos).
- No Mahayana, ou Grande Veículo, o praticante tem como motivação e objetivo a iluminação para o bem de todos os seres. A motivação do Mahayana é a Compaixão Universal, pela qual se tenta atingir a cessação do sofrimento pessoal como o Hinayana, porém com outra intenção última, “que todos os seres também possam se livrar de todos os sofrimentos”, compreendendo que somente quando se alcança o estado de Buda é que se pode beneficiar todos os seres. Também é importante mencionar que só com Bodhichitta (nível mais elevado de altruísmo), este desejo de libertar todos os seres do sofrimento, se poderá atingir o estado de Buda.
- No Vajrayana, ou Veículo Diamante, o praticante tem a mesma motivação e mesma Bodhichitta, todavia se recebe através de instruções especiais e secretas de Lamas e Monges, atingindo assim a iluminação de um modo mais rápido.
Desta forma, o Budismo compreende o conjunto de tradições religiosas que surgiram a partir dos ensinamentos de Buda, assim como também poderá ser compreendido como uma Filosofia de Vida, para nós ocidentais. Pois, estes ensinamentos — O Dharma — Buda não os "inventou", mas sim redescobriu verdades atemporais que já tinham sido ensinadas pelos Seres Iluminados de eras passadas.
Atualmente, o Budismo é a religião mais difundida na Ásia, onde conta com aproximadamente 300 milhões de seguidores. Os primeiros contatos do budismo com o Ocidente aconteceram há muito tempo, mas somente a partir do século XIX é que houve um interesse maior por parte dos ocidentais.

O Budismo é religião, uma filosofia, um sistema de psicologia?
A tradição budista abrange e transcende todos estes aspectos. Como religião, o budismo nos procura "religar" (re-ligare) à nossa verdadeira natureza. Como filosofia, o budismo enfatiza o "amor à sabedoria" (philo-sophia) no sentido mais elevado. E como psicologia, o budismo oferece um vasto "conhecimento da mente" (psykhe-logos). Acima de tudo, o budismo oferece um caminho que conduz ao fim do sofrimento.

O Budismo é uma ciência?
Às vezes o Budismo é descrito como uma "ciência da mente", no sentido de oferecer um sistema de conhecimento profundo do funcionamento da mente. Os métodos usados pelo Buda para analisar a natureza das coisas são praticamente científicos. Seus ensinamentos surgiram a partir da profunda contemplação e compreensão das Leis Naturais de Causa e Efeito e podem ser atestada por qualquer pessoa, independente de suas crenças. O próprio Buda recomendou que seus discípulos deveriam analisar os ensinamentos e não simplesmente aceitá-los por mero respeito.

Quem é o “Papa” do Budismo?
O budismo não possui uma hierarquia centralizada; cada tradição possui a sua própria estrutura organizacional. Muitos pensam que Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin Gyatso, é o "Papa" do budismo. Na verdade, Sua Santidade é o líder espiritual do povo do Tibet, ocupando uma importante posição dentro tradição tibetana Gelug. Entretanto, o Dalai Lama não é "Papa" do budismo, pois este posto sequer existe. Muitos praticantes budistas de outras tradições budistas e não-budistas têm grande respeito por ele.

Como são os ensinamentos Budistas?
Há algumas características que permeiam os ensinamentos de Buda. Qualquer ensinamento que esteja de acordo com estas características pode ser considerado budista: todas as coisas condicionadas (ou seja, que surgem de causas) são insatisfatórias; todas as coisas condicionadas são impermanentes; todas as coisas (condicionadas e incondicionadas) são destituídas de um "Eu" ou de uma essência independente; apenas o Nirvana oferece paz verdadeira. Algumas pessoas pensam que o "Budismo é pessimista", que "só fala de sofrimento" e "nega a felicidade", na verdade, o Budismo adota uma visão realista de nossos problemas e oferece um caminho que conduz a mais elevada felicidade.

O que é o Despertar?
O despertar, ou iluminação, é o Estado de Buda, sendo o mais elevado em virtude e sabedoria. No Budismo não existe o conceito de "pecado original" porque todos os seres têm o potencial de atingir o despertar. Existe a iluminação dos ouvintes (shravaka-bodhi), aqueles que ouviram os ensinamentos de Buda e atingiram o despertar; a iluminação dos realizadores solitários (pratyeka-bodhi), aqueles que atingiram a iluminação sem precisar ouvir os ensinamentos de um Buda; e a iluminação completa e perfeita (samyaksambodhi), atingida apenas pelos Budas. Estes três tipos de iluminação são progressivamente mais profundos e mais difíceis de atingir.

O que é Nirvana?
O Nirvana é a mais alta felicidade, um estado completamente além do sofrimento. Todos aqueles que atingiram algum grau de iluminação desfrutam da paz do Nirvana. Aqueles que atingem o Nirvana não estão mais sujeitos ao renascimento na Roda do Samsara (a existência cíclica) porque estão além do ciclo de morte e renascimento. O Samsara é condicionado, isto é, surge de causas e condições; já o Nirvana é incondicionado, não depende de causas e condições. Por isso, o Nirvana não é um lugar, pois transcende o espaço e o Nirvana é eterno, pois transcende o tempo. O Nirvana não é a "extinção do ser", mas sim a "extinção do sofrimento".

Quais são os Principais Ensinamentos do Budismo?

São as Quatro Nobres Verdades:
1. Todos os seres estão sujeitos ao sofrimento (velhice, doença, morte, insatisfação etc.);
2. O sofrimento surge de causas (cobiça, raiva, ignorância etc.);
3. Ao eliminarmos as causas, o sofrimento é eliminado;
4. Praticando o Nobre Caminho Óctuplo, o sofrimento e suas causas são eliminados.

O que é o Nobre Caminho Óctuplo?
É o caminho ensinado pelo Buda que conduz ao Despertar. Ele recebe este nome por ser dividido em oito práticas, geralmente agrupado em três treinamentos.


Os Três Treinamentos Superiores
O Nobre Caminho Óctuplo
 I. Sabedoria
 1. Visão Correta
 2. Pensamento Correto
 II. Ética (ou Moralidade)
 3. Fala Correta
 4. Ação Correta
 5. Meio de Vida Correto
 III. Meditação
 6. Esforço Correto
 7. Atenção Correta
 8. Meditação Correta

 
Com o treinamento da Ética, nossa mente chega a um estado tranqüilo, propício à meditação. E com o treinamento da Meditação, é possível chegar à Sabedoria que conduz ao Despertar ou Estado de Buda. O Nobre Caminho Óctuplo também é conhecido como o "Caminho do Meio" porque é baseado na moderação e na harmonia, sem cair em extremos.

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