domingo, 10 de novembro de 2013

Os Quatro Pensamentos Imensuráveis (parte II)

Depois de começar a entender o que é amor na visão budista, te convidamos a continuar refletindo sobre o tema no texto dessa semana.
No texto, Thich Nhat Hanh ensina os outros dois aspectos dos quatro referentes ao verdadeiro amor, segundo a filosofia budista. O terceiro aspecto do verdadeiro amor é mudita, a alegria. O verdadeiro amor sempre proporciona alegria, para nós e para as pessoas que amamos. Se nosso amor não trouxer alegria para as duas partes, não será um verdadeiro amor. O quarto aspecto do verdadeiro amor é upeksha, que significa equanimidade, desapego, não-discriminação, serenidade mental, ou a capacidade para deixar as coisas seguirem.

O terceiro elemento que é parte do amor é mudita, a alegria. O verdadeiro amor sempre proporciona alegria, para nós e para as pessoas que amamos. Se nosso amor não trouxer alegria para as duas partes, não será um verdadeiro amor. Os comentaristas budistas explicam que a felicidade está relacionada ao corpo e à mente, enquanto que a alegria se relaciona basicamente com a mente. Um exemplo muito citado é o seguinte: Alguém está atravessando um deserto e vê um riacho de água fresca. Nesse momento, a pessoa experimenta alegria. Ao beber a água, a pessoa experimenta a felicidade.

Drishta dharma sukha viharin significa "estar feliz no momento presente". Não nos lançamos ao futuro, porque sabemos que tudo o que importa está aqui, agora. Muitas pequenas coisas podem nos proporcionar alegria, como por exemplo a lembrança de que temos um par de olhos em bom estado de funcionamento. Só precisamos abrir nossos olhos, para enxergar o céu azul, as flores violetas, as crianças, as árvores, além de muitas outras formas e cores. Com nossa atenção, atingimos todas estas coisas maravilhosas e renovadoras, e a alegria surge naturalmente em nossas mentes. A alegria contém felicidade, assim como a felicidade contém a alegria.

Alguns comentaristas já disseram que mudita significa "alegria empática" ou "alegria altruísta", ou seja, a felicidade que sentimos ao ver pessoas felizes. Mas isso é muito limitado, porque implica uma separação entre o "eu" e os outros. Uma definição mais profunda de mudita é a alegria repleta de paz e de contentamento. Nós nos alegramos ao ver outras pessoas, mas também nos alegramos com o nosso próprio bem-estar. Como podemos nos alegrar por outra pessoa, se não sentimos alegria por nós mesmos? A alegria é para todos.

O quarto elemento do verdadeiro amor é upeksha, que significa equanimidade, desapego, não-discriminação, serenidade mental, ou a capacidade para deixar as coisas seguirem. Upa quer dizer "acima" e iksh significa "olhar". Você sobe uma montanha para poder olhar de cima, para a situação como um todo, sem se limitar a um lado ou a outro. Se o amor contiver apego, discriminação, preconceito ou desejo, não será um amor verdadeiro. As pessoas que não conhecem o budismo pensam que upeksha significa indiferença, mas a verdadeira equanimidade não é fria nem indiferente. Se você tem mais de um filho, todos são igualmente seus filhos. Upeksha não significa que você não os ama, mas que ama de tal maneira que todos os filhos recebem amor, sem discriminação.

Upeksha traz a marca chamada samatajnana, "a sabedoria da igualdade", a capacidade de ver todos como iguais, de não discriminar entre o "eu" e os outros. Em um conflito, mesmo que estejamos envolvidos, permaneceremos imparciais, capazes de amar e entender ambos os lados. Abandonamos toda a discriminação e o preconceito, removendo as barreiras entre nós e os outros. Enquanto enxergarmos a nós mesmos como aquele que ama, e o outro como aquele que é amado, enquanto dermos mais valor a nós mesmos do que aos outros, e nos considerarmos diferentes dos outros, não teremos atingido a verdadeira equanimidade. Temos que aprender a nos colocar no lugar da outra pessoa, tornando-nos unos com essa pessoa, se quisermos realmente compreender e amar o outro. Quando isso acontece, deixam de existir o "eu" e o "outro".

Sem upeksha, o amor se torna possessivo. Uma brisa de verão talvez seja refrescante, mas se tentarmos enlatar a brisa para tê-la ao nosso dispor, a brisa morrerá. Com as pessoas que amamos acontece a mesma coisa. A pessoa amada é como uma nuvem, uma brisa ou uma flor. Se você aprisioná-la em uma lata ela morrerá. Entretanto, muitas pessoas fazem exatamente isto. Tiram a liberdade de seus seres amados até o ponto onde a outra pessoa não consegue mais ser ela mesma. Vivem para satisfazer seus próprios desejos, usando o ser amado para ajudá-los a fazer isso. Isso não é amar, é destruir. Você diz que ama a pessoa, mas se não tentar entender seus anseios, necessidades e dificuldades, a pessoa viverá em uma prisão chamada de amor. O verdadeiro amor preserva a liberdade das duas pessoas, e é isso que é upeksha.

Para que o amor seja verdadeiro, precisa conter compaixão, alegria e equanimidade. Para que a compaixão seja verdadeira, deve conter alegria, amor e equanimidade. Da mesma forma, a verdadeira equanimidade precisa conter amor, compaixão e alegria. Essa é a natureza interdependente dos Quatro Pensamentos Imensuráveis. Quando Buda disse ao brâmane para praticar os Quatro Pensamentos Imensuráveis, estava nos oferecendo um ensinamento importante. Mas é preciso que tenhamos a disciplina de contemplar tudo isso e praticar por nós mesmos os quatro aspectos do amor, trazendo o ensinamento para nossas próprias vidas e para as vidas daqueles que amamos. Em muitos sutras, Buda diz que se praticarmos os Quatro Pensamentos Imensuráveis juntamente com as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, nunca mais desceremos ao reino da dor e do sofrimento (Sansara).

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh) 
FONTE:  http://sangavirtual.blogspot.com

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