domingo, 21 de abril de 2013

As Quatro Nobres Verdades


texto compilado por Karma Tenpa Dharguye
“Um dos ensinamentos básicos do Buda é que é possível viver feliz no momento presente. Drishta dharma sukha vihari é a expressão em sânscrito. O Dharma lida com o momento presente. O Dharma não é uma questão de tempo. Se você pratica o Dharma, se vive de acordo com o Dharma, a felicidade e a paz estão com você agora.  A cura se dá tão logo o Dharma seja abraçado”.
Thich Nhat Hanh, Living Buda, Living Christ.

No ano 589 antes da era cristã (2513 do atual Kali Yuga), depois de experimentar sua iluminação debaixo de uma figueira do Parque das Gazelas, em Sarnath, Buda Shakyamuni fez o seu primeiro sermão, em que apresentou as quatro nobres verdades de que (1) existe sofrimento; (2) o sofrimento tem causas; (3) o sofrimento tem um fim e (4) existe um caminho para finalizar o sofrimento. Mostra que tudo é sofrimento, que a causa do sofrimento é o desejo, que o sofrimento cessa quando o desejo cessa; e que isso se consegue seguindo o caminho das oito vias. No sermão de Benares, afirmou ainda que o esforço correto é o do equilíbrio eqüidistante de todos os extremos – o Caminho do Meio, e que a liberação do ‘eu’ libera nossos corações da avidez, do ódio e da ilusão, abrindo a mente para a Sabedoria e o coração à bondade e à Compaixão. Segundo o Buda, nós devemos conhecer as quatro verdades, saber a tarefa a ser feita em cada uma delas e finalmente realizá-las por completo. Elas são semelhantes a uma receita médica, diagnosticando a doença, a causa desta doença, o remédio para curá-la e a prescrição de como tomá-lo.


A Nobre Verdade do Sofrimento
(sânsc. - Duhkha - páli - Dukkha)
“A condição de Samsara é basicamente uma condição da mente e não do mundo externo — apesar de muitas pessoas suporem o contrário. O Samsara não é o mundo material onde vivemos — casas, árvores, montanhas, rios, animais etc. Ao invés disso, [o Samsara] é a mente que vive ocupada e que nunca consegue aquietar-se”.
Traleg Kyabgon Rinpoche, The Essence of Buddhism.

A Primeira Nobre Verdade nos lembra da existência cíclica de sofrimentos e renascimentos sem fim, que os budistas chamam da Roda da Vida ou Samsara. Buda revela aqui que tudo no mundo encerra uma possibilidade de causar sofrimento. ‘Nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer, estar unido com aquilo de que não gostamos é sofrer, separarmo-nos daquilo que amamos é sofrer, não conseguir o que queremos é sofrer’. Para o budismo, todo esse sofrimento ultrapassa o mero desconforto físico e psicológico ao manchar a existência como um todo. Buda, no entanto, não negou a felicidade mundana, mas reconheceu que não podemos ter a expectativa de que ela dure — esse tipo de felicidade é impermanente, insatisfatório e sem essência. Buda diagnosticou esta insatisfação como uma doença que atinge todos os seres sencientes. A tarefa da primeira nobre verdade é que o sofrimento deve ser completamente entendido.
Em seus sermões, Buda lembrou diversos acontecimentos corriqueiros de nossas vidas, que para nós são sofrimento, na medida em que não estamos conscientes de como as coisas atuam e não somos senhores de nós mesmos, parte devido a condicionamentos automatizados, parte à ignorância intrínseca que todos temos. A Primeira Nobre Verdade é esta tomada de consciência; é somente a porta de entrada para a mensagem de que há uma saída para nossos problemas.

A Nobre Verdade da Causa do Sofrimento (sânsc. e páli Samudaya)

“Sofremos, não porque somos basicamente maus ou porque merecemos ser punidos, mas por causa de três trágicos mal-entendidos. Primeiro, esperamos que aquilo que está em constante mudança seja previsível e possa ser aprisionado. [...] Em segundo lugar, procedemos como se fôssemos separados de todo o resto, como se fôssemos uma identidade permanente, quando, na verdade, nossa situação é ‘sem ego’. [...] Em terceiro lugar, procuramos a felicidade sempre nos lugares errados. O Buda chamou esse hábito de ‘confundir sofrimento com felicidade’, como uma mariposa que voa para a chama”.
Pema Chödrön, Os Lugares Que Nos Assustam.

Na segunda nobre verdade, Buda ensina que o sofrimento não surge ‘por acaso’, nem é um castigo imposto por um ‘ser superior’ em decorrência de nossos ‘pecados’. Sua origem não está em coisas externas como a sociedade, a política e a economia; estas são causas secundárias, reflexos externos de nossas delusões internas. Para Buda, o sofrimento é causado pelo apego ao desejo e ao intenso ‘querer’ do ser humano, a sede de prazeres físicos, uma ânsia que nunca pode ser plenamente saciada e que, portanto, sempre irá provocar um sentimento de desprazer. O desejo deludido faz com que nos apeguemos à falsa idéia de um ‘eu’ ou ‘ego’, que possui grande apego por felicidade, ganhos, elogios e fama – e não consegue mantê-los – e uma aversão pela tristeza, perdas, críticas e difamação – e nem sempre consegue evitá-las. Para Buda, até mesmo o desejo de sobrevivência do ser humano contribui para manter o sofrimento. Enquanto ele se apegar à vida irá perceber o mundo como sofrimento. O desejo de não existir também causa dor e confirma a ilusão da existência de um ego, pois é baseado na sua existência que a pessoa, frustrada e cansada, deseja aniquilá-lo ou paralisá-lo.
Para o budismo não há nada de errado em ter prazer ou desejos. O erro é nos subjugarmos a eles através do apego, e em vez de sermos senhores de nossa situação, sermos apenas escravos deste apego/aversão. Por exemplo: ao obtermos algo que desejamos ficamos felizes. A realização daquele desejo, preenchendo-o e finalizando-o é a experiência da felicidade. Pela lei da impermanência, esta experiência tem um fim, e pelo apego gerado desejamos reviver aquela felicidade. Só que este desejo pedindo imediata satisfação cria tensão, angústia, medos. Ficamos presos então a uma roda viva de desejos-satisfação-apego-aversão-outro desejo.
Algumas emoções negativas que causam sofrimento: desejo, cobiça, ambição, luxúria, avareza, ganância ou apego (sânsc. - kama-raga, páli - lobha); raiva, ódio, cólera, agressão, má-vontade ou aversão (sânsc. - dvesha, páli - dosa); ignorância, confusão, dúvida, ilusão ou delusão (sânsc. - avidya, páli - moha).
“O querer sábio não pode dar origem ao apego. Desta forma, não há apego ao conceito ilusório de “Eu” ou “Meu” e não há a existência do “Ego”, nem nascimento do Ego. Não há Ego, nem Eu ou Meu a surgir. Nada pode, desta maneira, entrar em contato com o ‘eu’, pois sem ‘eu’ não há problema algum na mente”.
Achaan Budadasa, A Causa do Sofrimento na Perspectiva Budista.

A Nobre Verdade da Extinção do Sofrimento (sânsc. - Nirodha, páli  - Nirodho)
“Naquele que é caridoso a virtude crescerá. Naquele que domina a si próprio nenhuma cólera poderá aparecer. O homem justo rejeita toda maldade. Pela extirpação da concupiscência, do ódio e de toda ilusão, tu atingirás o Nirvana”
O Buda, Mahaparinibbana Sutta.


A Terceira Nobre Verdade é que o sofrimento pode ser levado ao fim. Em termos budistas, isto só é possível quando o desejo cessa. Para isso, a ignorância do homem deve ser enfrentada, pois ela é a causadora do desejo. O homem não se liberta sem desenvolver em si o afloramento da Sabedoria interior, do Amor e da Compaixão, itens imprescindíveis para a nossa sobrevivência, ensinados por Buda. A total cessação do sofrimento também é conhecida como a liberação (sânsc. - Nirvana, páli - Nibbana).
A tarefa da terceira nobre verdade é que a cessação deve ser completamente realizada.
Nirvana
Palavra de conhecimento mundial, mas cujos significados verdadeiros são amplamente desconhecidos. Em sânscrito, “nir” é “não”, e “vana” é “cordão”; assim Nirvana pode ser traduzido como “não estar preso”, ou “estar liberto” (da tirania do ego, da ignorância, da ilusão e da dor). No budismo, o Nirvana é um estado do ser, e não um lugar ou “paraíso”, e pode ser alcançado por todos que renunciam ao “eu” e ao apego. É um estado de paz e alegria sem limites. Algo eterno, fora do sofrimento. Aquele que atinge o Nirvana não se arrepende do passado nem se preocupa com o futuro; vive o momento presente e está livre da ignorância, dos desejos egoístas, do ódio, da vaidade, do orgulho. Torna-se um ser puro, meigo, cheio de Amor Universal, Compaixão, bondade, simpatia, compreensão e tolerância. Presta serviço aos outros com a maior pureza, não procura lucro, nem acumula coisa alguma, nem mesmo bens espirituais, pois está liberto do desejo de vir a ser alguma coisa. Buda atingiu o Nirvana em vida, aos 35 anos, quando a pessoa Sidarta Gautama morria para dar lugar ao Iluminado. Segundo textos budistas, ele renasceu 547 vezes antes de finalmente chegar lá.

A Nobre Verdade do Caminho que Leva à Cessação do Sofrimento (sânsc. - marga, páli - magga)
“[Buda] nos ensinou o caminho do meio; a não sermos muito rígidos, nem muito relaxados; a não ir nem a um extremo, nem a outro. [...] Trilhar o caminho do meio faz surgir condições que conduzem ao estudo e prática, bem como ao sucesso em colocar um fim ao sofrimento. A expressão 'caminho do meio' pode ser aplicada genericamente em muitas situações variadas. Não é possível você se enganar. O caminho do meio consiste em seguir o meio dourado. Conhecer as causas, conhecer os efeitos, conhecer a si mesmo, conhecer quanto é suficiente, conhecer o tempo apropriado, conhecer os indivíduos, conhecer os grupos de pessoas: estas sete nobres virtudes constituem o caminho do meio”.
Achaan Budadasa, 48 Respostas sobre Buddhismo.

A Quarta Nobre Verdade consiste na base de todo treinamento budista. Indica o Caminho a tomar para a cessação do sofrimento e do renascimento: A Nobre Senda Óctupla, Caminho do Meio ou O caminho das Oito Vias.
Com base em sua própria existência, Buda acreditava que o homem deve evitar os extremos da vida. Não se deve viver nem no prazer extravagante, nem na autonegação exagerada. Ambos os extremos acorrentam o homem ao mundo e, assim, à 'roda da vida'. Todo budista deverá aplicar o esforço correto para trilhar o caminho do meio, ficando longe de radicalismos, de pontos de vistas extremos e errôneos, vivendo conforme o conselho de Buda: se esticarmos demais as cordas do violão elas arrebentarão, e se as deixarmos frouxas, elas não produzirão o som adequado. O ideal está no meio-termo, na medida correta das coisas. Assim, cada budista deverá descobrir qual é o seu ‘Caminho do meio’.
O caminho para dar fim ao sofrimento é o ’caminho do meio’, e Buda o descreveu em três áreas simultâneas e complementares (Vida ética, Concentração e Sabedoria), que juntas reúnem oito partes: (1) Compreensão Correta ou Completa; (2) Pensamento Correto; (3) Palavra Correta; (4) Ação Correta; (5) Meio de Vida Correto; (6) Esforço Correto; (7) Conscientização Completa ou Correta; e (8) Concentração Correta.

O símbolo universal budista da Roda, a Roda da Lei – que se opõe à Roda da Vida de ignorância e sofrimentos – que é composta por oito fatores e são representados pelos oito raios da Roda. Cada Raio representa um fator que nós todos temos funcionando em nossas vidas diárias, só que de forma incompleta, parcial, obscura ou errônea. Budismo busca colocar estes oito fatores funcionando em nossas vidas em seu lado pleno.
Compreensão Correta ou Completa e Pensamento Correto: Busca da Sabedoria, libertando o homem da ignorância que o mantém na roda da vida. O homem deve construir sua compreensão sobre como o mundo funciona, lutar contra o desejo, evitar sentimentos que causam o sofrimento, como ódio e luxúria, e olhar o Buda como um ideal. Palavra Correta, Ação Correta e Meio de Vida Correto: Código de ética do budismo. O homem deve parar com mentiras e intrigas, e falar com o seu semelhante de forma verdadeira e carinhosa. Ficar em silêncio quando necessário. Deve seguir os cinco mandamentos (não matar nenhum ser vivo, não roubar, não ser sexualmente promíscuo, não mentir e não tomar estimulantes). Escolher um trabalho que não contrarie esses mandamentos. Por exemplo, embora o budista possa comer carne, não pode ser açougueiro.
Esforço Correto, Conscientização Completa ou Correta e Concentração Correta: Maneira como o ser humano pode melhorar a si mesmo. O budista deve evitar pensamentos ou estados de espírito destrutivos, e se já existirem, devem expulsá-los. Deve praticar a autocontemplação para obter pleno controle do seu corpo e de sua mente. Uma vez conseguido isto, ele estará pronto para iniciar a meditação. Através dela, o budista pode atingir a plena iluminação, libertando-se da lei do carma. O budista se torna então um Arhat (isto é, 'venerável'), o que significa que não irá mais renascer. E quando morrer atingirá o eterno nirvana.
“Às vezes os ensinamentos podem parecer pouco práticos. Você pode dizer, ‘Tudo bem, entendi tudo, mas tenho um pequeno problema: hoje é dia 18 e no dia 20 tenho de saldar uma conta. O que vou fazer? Explicar ao gerente do banco o Nobre Caminho Óctuplo? Ele pode até compreender, mas não vai poder me ajudar [...] Podemos manipular coisas, dar jeitinhos, mas existe um limite. Quando manipulamos, o ensinamento budista diz: isso não é liberação, isso é o modo de agir na roda da vida, mas a efetividade dessa ação não passa de certo ponto. Em um determinado momento, vamos ter mesmo de passar pelas piores circunstâncias. Quando isso acontece, surge à possibilidade de liberação, como ocorreu com o Buda, a revelação da natureza ilimitada que está além da roda da vida. O ensinamento budista não diz que você vai se livrar das dificuldades. O budismo ensina que, no meio das dificuldades, sua natureza última não entra em sofrimento, não pode ser afetada. Esse é o ensinamento mais sutil sobre crise. No budismo dizemos que sofrimento e alegria têm a mesma face quando contemplados a partir da natureza última. Na natureza última não é corrompida na alegria e não entra em crise no sofrimento”.

Padma Samten, Meditando a Vida


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A Primeira Nobre Verdade diz que todas as experiências condicionadas são insatisfatórias. Ou seja, tudo que tem um início, tem um fim, e tendo um fim, não é, num sentido definitivo, satisfatório. Uma boa experiência nunca dura para sempre, e nunca estamos seguros de que uma experiência ruim não venha a surgir.

A Segunda Nobre Verdade diz que a insatisfatoriedade surge principalmente de não reconhecermos as experiências condicionadas como verdadeiramente são, isto é, de gerarmos uma falsa expectativa quanto a elas, de nos associarmos a elas de uma forma errônea, tentando conseguir nelas o que elas nunca vão nos dar. Assim, as perseguimos incansavelmente, na esperança de que a próxima seja uma solução definitiva. Porém, a causa disso é essencialmente não as vermos como verdadeiramente são. 
Algumas vezes a primeira e a segunda Nobres Verdades são traduzidas como “o mundo é sofrimento” e “a causa do sofrimento é o desejo”, mas o ponto principal é entender que o problema existe (nossa insatisfação), e que ele tendo uma causa, pode ser dissolvido. Então são a verdade de que há uma tensão, há uma complicação, que precisa ser reconhecida, mas que também é preciso reconhecer que esse problema não é natural, e sim possui uma causa.

Eliminando a causa, temos a Terceira Nobre Verdade. Isto é, ao parar de atribuir às experiências condicionadas o poder de nos dar felicidade, reconhecemos a verdadeira natureza das coisas e de nós mesmos como inerentemente satisfatórias, num sentido que está além do que se poderia chamar de “felicidade condicionada”, isto é, que depende de condições externas ou internas para começar — e que portanto, um dia termina. A terceira Nobre Verdade nos revela o cessar da atribuição errônea de expectativas, e o repousar na perfeição do que já é, exatamente como se apresenta, sem artificialidade. 

A Quarta Nobre Verdade então nos dá um método para alcançarmos este estado, o que é chamado de Nobre Caminho Óctuplo, ou, podemos dizer, todos os métodos que o Buda ensinou são a quarta Nobre Verdade, que nos dá uma miríade de métodos de produzir o entendimento e aplicação das três outras Verdades como um modo de atingir a liberdade última perante nosso hábito de procurar a felicidade no lugar errado.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Karma e Dharma

Karma significa AÇÃO, pois a reação é gerada através de uma ação, já faz parte de uma ação. Para o Budismo, o Karma não tem relação alguma com pecado, castigo, "ira divina e ou destino" e sim com aprendizado, educação, amadurecimento e evolução, pois quando aprendemos uma lição o Karma cessa. Tem o contexto puramente de causa e conseqüência, ou seja, toda ação corresponde a uma reação, inexoravelmente. Desta forma o Karma pode ser tanto positivo quanto negativo e depende unicamente das ações que geramos e praticamos.
A Lei do Karma pode ser considerada como uma lei de harmonia universal, que preserva a unidade do Universo e é um dos princípios fundamentais da física. 

"A toda ação corresponde uma reação igual e em sentido contrário".
(Issac Newton)

Karma cria a necessidade do ciclo reencarnatório - Samsara, que é justamente um impulso cármico, sendo qualquer tipo de atividade física, mental ou espiritual - ações corretas produzem bons resultados e ações erradas trazem más conseqüências, pois criamos o nosso Karma através do que pensamos, dizemos e fazemos. Se vibrarmos coisas boas e sentimentos bons, receberemos coisas boas e teremos sentimentos bons para compartilhar com todos os demais seres. Resumidamente, podemos dizer então, que Karma é “tudo o que recebemos de volta”.

"Cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixão 
decididamente conduz a melhor saúde mental e a felicidade."
(Dalai Lama)

E como estas coisas boas e sentimentos bons não são acompanhados de cobiça, resistência ou ilusão e sofrimento e que se quantificados, transformam-se em gestos de compaixão, benevolência e altruísmo, podemos desta forma, transmitir, doar e multiplicar esses sentimentos a todos os seres, beneficiando-os. E isto tudo é justamente o Dharma, que ao pé da letra quer dizer “aquilo que sustenta”.
No budismo, o Dharma está associado à Lei Natural, à Verdade Natural que rege o Universo, as pessoas, as coisas e tudo que existe no mundo. Ou seja, é o Caminho Natural, o Comportamento Natural ou o Dever Natural da Pessoa, num sentido mais intrínseco, é aquilo que é nato, essência pura. E que se refere ao fato de cada pessoa possuir um curso de ação que é o mais correto e gratificante para ela, um caminho que produz uma maior felicidade e uma evolução mais rápida.
Pode ser compreendido ainda como a Lei Espiritual do Viver. Os budistas também chamam de Dharma o conjunto de ensinamentos deixados por Sidarta Gautama, o Buda Shakyamuni. O Dharma é considerado uma das Três Jóias ou Três Refúgios no budismo, juntamente com o próprio Buda e com a Sangha, a comunidade de praticantes.
Segundo Arthur Shaker, coordenador da Casa de Dharma, que é um centro de meditação Budista de São Paulo, o Dharma é “conduzir a própria existência de acordo com a prática das virtudes: evitar mentir, evitar roubar e matar. Sempre buscar autocontrole, discernimento entre o certo e o errado, exercitar a solidariedade, a generosidade e a bondade, cultivar a compaixão, a sabedoria e o altruísmo”. 
Todas as pessoas que se identificam de coração com a filosofia Budista devem se empenhar em seguir o caminho do Dharma, pois ao vivenciar o Dharma, é possível nos libertar dos sofrimentos mundanos e entrar em sintonia com as Leis Divinas e Universais de criação, alcançando a totalidade da vida, o Despontar da Felicidade e da Saúde Perfeita.
Resumidamente, o Dharma é “tudo aquilo que doamos”. Significa o caminho de ação mais correto, evolucionário e gratificante para nossa natureza única.

sábado, 13 de abril de 2013

A Essência do Budismo (Parte II)


“Só há um tempo em que é fundamental despertar...
Esse tempo é agora”.
(Buda)

Para dar continuidade ao capítulo anterior, mais alguns esclarecimentos se fazem necessários, para que, posteriormente, possamos adentrar nos principais ensinamentos budistas com maior ênfase e concretude. As perguntas e respostas foram reunidas e discernidas através da Sociedade Budista Karma Shisil Ling Monastério, que nos serviu de inspiração.

O que é a Sabedoria como treinamento?
O termo sabedoria não se refere a um mero conhecimento intelectual e conceitual de coisas e fatos. Sabedoria é o estado mental que conhece a Verdadeira Natureza das coisas e fatos. Entre as principais características da sabedoria, pode-se enfatizar o desapego e a compaixão (o serviço ativo pelo benefício dos outros).

O que é a Ética como treinamento?
No budismo não há a ideia de "pecado", de uma ofensa causada pela quebra de um mandamento, por exemplo. Entretanto, existem alguns preceitos básicos que constituem a Ética budista:
  • Não matar
  • Não roubar
  • Não ter uma conduta sexual indevida
  • Não mentir
  • Não usar intoxicantes
Desta forma, são evitadas as ações que resultam em frutos negativos. Em seu lugar, os budistas cultivam as ações que conduzem a frutos positivos:
  • Praticam a bondade amorosa,
  • A generosidade,
  • O contentamento,
  • A honestidade,
  • Atenção plena.
O que é Meditação como treinamento?
A meditação é um treinamento para purificar a mente de seus aspectos negativos — cobiça, raiva, ignorância — e em seu lugar cultivar os aspectos positivos — generosidade, compaixão, sabedoria. Existem diferentes estilos de meditação budista que foram preservadas por diversas tradições. Meditar é “parar de pensar”, ou melhor ainda, é não “dar asas aos pensamentos”. Simples assim. A questão é que fomos treinados a pensar, pensar muito, em uma quantidade tal que nos é improvável essa história de pararmos com nossa tagarelice mental.

Quais são os Dez Estados de Vida?
Os altos e baixos da nossa vida emocional, são explicados na Teoria Budista dos Dez Mundos. O Budismo ensina que toda a forma de vida contém dez estados potenciais, chamados Os Dez Estados ou Mundos.
São eles: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda. Com exceção do Estado de Buda (que é só positivo), todos os outros possuem aspectos positivos e ou negativos. 
Os seis estados inferiores ou Seis Maus Caminhos, (inferno, fome, animalidade, ira, tranqüilidade e alegria) aparecem quando o indivíduo reage ao seu ambiente. Por outro lado, os quatro estados elevados ou Quatro Nobres Caminhos, (erudição, absorção, Bodhisattva e Buda) aparecem apenas quando o indivíduo faz um esforço.
 O Estado de Buda não é um fim por si só. É a mais poderosa força da vida que trabalha através dos nove outros estados, transformando seus aspectos negativos em positivos e nos permitindo criar benefícios em qualquer situação que apareça. (falaremos mais adiante, em outro capítulo)

O que é Karma?
No Ocidente, costuma-se associar a palavra "destino" a Karma. Contudo "destino" e "Karma" possuem bases de ensinamentos e crenças totalmente distintas.
A palavra Karma tem sua origem no sânscrito e significa "ação". O budismo prega que a vida é eterna e que é o Karma que determina a trajetória de uma pessoa, ou seja, as ações por ela praticadas é o que traça seu destino nesta existência e nas futuras, assim como suas ações de um tempo passado são fatores que definem sua realidade atual.
Este termo refere-se à Lei Natural de Causa e Efeito, as ações e seus frutos. As ações podem ser feitas através da mente (os pensamentos), da fala (as palavras) e do corpo (as ações propriamente ditas). A analogia mais usada para explicar o Karma é a do plantio de uma semente, que amadurece e faz surgir frutos. As ações hábeis (positivas) criam virtudes e conduzem à felicidade, enquanto as ações inábeis (negativas) criam não-virtudes e conduzem ao sofrimento. Apenas os seres iluminados não produzem mais Karma embora ainda estejam sujeitos aos frutos de ações anteriores. (trataremos em outro capítulo a distinção entre Karma e Dharma)

O que é Renascimento?
É o processo pelo qual os seres nascem novamente após a morte do corpo físico, em um dos reinos da existência — entre os deuses, semideuses, humanos, animais, espíritos famintos e etc. O que determina o renascimento é o Karma criado anteriormente, que pode ser tanto positivo quanto negativo. Todos os seres que nascem nestes reinos estão sujeitos à velhice, doença, morte e renascimento. Somente ao atingirem a iluminação – O Despertar – eles se tornam livres deste ciclo "reencarnatório", chamado de Samsara. Segundo o budismo, o que continua é o impulso cármico. (estudaremos a Roda da Vida em outro capítulo)

Os budistas acreditam em Deus?
"Não julgue o desconhecido". Isso é o budismo.
Inicialmente é bom esclarecermos que Buda não é um deus. A palavra "Buda" significa "o iluminado". Ou seja, um Buda é aquele que se iluminou para a Verdade da Vida.
Para os cristãos, o 'inexplicável' (fenômenos do universo), é atribuído a Deus, que vive no céu e dita às regras da Terra. No budismo, os fenômenos são atribuídos através da compreensão de uma lei que rege o universo. Essa lei é denominada Lei Natural de Causa e Efeito.
Segundo os ensinamentos budistas, tudo na vida é regido pela Lei de Causa e Efeito existente no universo. Os sofrimentos e a felicidade existem na vida de cada pessoa e se manifesta de acordo com a força positiva ou negativa que cada um carrega. Entretanto a Lei que rege o Universo não é punitiva e sim, justa, equilibrada, rigorosa e benevolente, pois cada pessoa recebe o que determinou.
O importante em cada religião é o respeito mútuo. Desconsiderar a existência de Deus para um cristão por sermos budistas é desrespeitar a pessoa e sua fé. Com base nisso devemos estudar o budismo para que possamos defender nossa “fé” convictamente, sem no entanto, desrespeitar a fé dos outros.
O conceito budista de "Deus" é diferente do conceito ocidental (cristão) de um Ser Supremo, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas. Portanto, no Budismo não existe a idéia (idéia ocidental) da figura de um Criador, ao qual devemos idolatrar e servir, nem a ameaça de sermos julgados e jogados num inferno de existências, caso não o obedeçamos. A meta da prática espiritual não é a de fugir para um paraíso, deixando os outros seres para trás, mas sim atingir a Iluminação e trazer benefícios para todos — não apenas aos seres humanos, mas para todos os seres sem exceção. É nossa própria consciência adormecida ou desperta que nos levará às ações boas ou más. Dentro de nós existem todos os céus e todos os infernos possíveis, onde estamos sujeitos às Leis de Causa e Efeito, Ação e Reação.

Como surgiram o Universo e os Seres?
Do ponto de vista budista, não existem mitos sobre a "criação". Não houve uma "causa primeira", não aconteceu um evento inicial isolado que possa ser rotulado como "a criação", nem haverá um evento final que possa ser chamado de "o fim do mundo". O tempo não tem início nem fim; da mesma forma, os reinos da existência cíclica não têm início nem fim. Todas as coisas surgiram de suas próprias causas e condições e estão sujeitas à cessação de acordo com essas mesmas causas e condições. Basicamente, o budismo explica que o universo é eterno, transformando-se e evoluindo continuamente para um futuro infinito, desenvolvendo-se de um passado também infinito, ao contrário da tradição judaico-cristã, que postula a existência do universo como uma criação divina.
Traçar qualquer conclusão sobre qualquer teoria científica da evolução cósmica como correta seria tão difícil como prematura, pois ninguém oferece provas conclusivas de nenhuma teoria. Assim quando tentamos definir o universo, até o presente momento o único caminho acessível é a nossa imaginação.

Quais são as escrituras Budistas?
O cânone budista é conhecido como Três Cestos ou Tripitaka. Ele recebe este nome porque os ensinamentos do Buda foram compilados em três grupos. Os discursos atribuídos ao Buda e seus discípulos foram registrados em textos conhecidos como Sutras. As regras monásticas foram registradas em um conjunto de textos intitulado Vinaya. Finalmente, os textos que lidam com questões metafísicas compõem o Abhidharma.

O que são as Escolas Budistas?
Conforme se espalhou pela Ásia ao longo dos séculos, a Comunidade Budista —Sangha — adaptou-se às necessidades locais e fez surgir diversas tradições, ou escolas. Todas as tradições autênticas possuem um núcleo comum de ensinamentos, como As Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo, os Dez Estados de Vida, etc. Cada escola enfatiza determinados aspectos e práticas do ensinamento budista. Conhecendo as diversas tradições, também podemos apreciar um pouco das belíssimas culturas orientais. No sul e sudeste asiático, a tradição predominante é a Theravada. Na China, na Coréia, no Japão e no Vietnã, desenvolveu-se o Grande Veículo ou Mahayana, cujas vertentes mais conhecidas são a escola Zen (tradição à qual seguimos) e a escola Terra Pura. Já no Tibet, Nepal, Mongólia e outras regiões próximas ao Himalaya, o budismo tântrico ou Vajrayana fez surgir quatro escolas — Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug.
 
FONTE: http://www.kslm.org.br/kslmbudismo.php

domingo, 7 de abril de 2013

A Essência do Budismo (Parte I)


“Somos o que pensamos.
Tudo o que somos, surge com nossos pensamentos,
Fazendo assim o nosso Mundo.
(Buda)


Antes de tratarmos especificamente do conjunto de ensinamentos do Buda Shakyamuni (que é o estudo do Dharma) vamos procurar difundir inicialmente o entendimento sobre: Quem foi o Buda Histórico Siddhartha Gautama; O que é o Budismo e suas vertentes; Como são os ensinamentos Budistas e esclarecer algumas questões e ou questionamentos acerca do Budismo e sua prática.

Quem foi Buda?
 
Há cerca de 2.500 anos (por volta dos séculos VI-V a.C.), ao norte da Índia, próximo ao atual Nepal, vivia o clã dos Sakyas, que era governado pelo rei Sudodhana e a rainha Maya de Kapilavasthu.
Esta estando grávida e de acordo com os costumes da época, uma mulher que estivesse para ter um filho, deveria retornar à casa dos pais. Durante a viagem, a comitiva parou num jardim chamado Lumbini, para um breve descanso. Mas, enquanto a rainha repousava embaixo de uma árvore começou sentir dores e entrou em trabalho de parto. Em seguida deu à luz a um menino.
Uma semana após o nascimento do príncipe, sua mãe, a rainha Maya adoecia e morria. A partir daí o menino passaria a ser criado pela Princesa Prajapati e deram-no o nome de Siddharta Gautma. (Siddharta significa "desejo satisfeito").
Siddharta foi um menino como outro qualquer, cheio de energia e ambição. Recebeu a melhor educação possível na época, por ser um príncipe herdeiro. Dentre os cavaleiros, era o melhor, excelente arqueiro e lutador, bem como gênio mental, onde o seu entendimento e amor tornaram-se perfeitos, e todos no mundo reconheceram isso.
Ao crescer e muito jovem ainda, começou a se interessar em descobrir a causa de todos os sofrimentos da vida. Acabou por ver que a vida continha muito sofrimento; que as pessoas não amavam umas às outras; não se compreendiam suficientemente. Foi então perdendo o interesse pelos esportes e pela política e, apesar do pedido do pai, para que assumisse o trono, abandonou o belo palácio e tornou-se um buscador da verdade.
Tinha então 29 anos, quando deixou seu lar renunciando uma vida de luxo e riquezas e foi para a floresta praticar meditação, respiração e sorriso, como forma de buscar o fim do sofrimento.
Percorreu todo o país nos seis anos seguintes, procurando mestres e ensinamentos através dos quais pudesse resolver os muitos problemas da vida. Primeiro, foi aos Brâmanes e tentou, com sua filosofia, resolver os problemas humanos. Depois estudou com um grupo de ascetas, adotando uma vida severa e contemplativa a fim de desenvolver seu despertar, sua compreensão e amor no mais alto nível. E assim ele prosseguiu, durante seis anos, estudando todas as escolas de religião e filosofia; inutilmente, no entanto. Nenhuma daquelas escolas lhe oferecia uma resposta satisfatória.
Certo dia, depois de banhar-se nas águas do Nairanjana, sentou-se sob uma figueira (Bodhi Tree) e meditou... e ali, após aqueles muitos anos de observação e experiência, com então 35 anos, finalmente descobriu a verdade, alcançou a iluminação ou despertar e a partir de então, ele passou a ser conhecido como o Buda — o Desperto, o Iluminado, o Buda Histórico ou Buda Shakyamuni, — e se dedicou ao ensinamento do caminho que conduz ao Despertar.
Durante 45 anos, ensinou o Caminho de Vida que ele próprio encontrara. Foi um filósofo, psicólogo e líder espiritual prático e realista. Foi o primeiro a negar o sistema de castas, dizendo que um homem deve ser julgado por suas qualidades e não por seu nascimento. Portanto, contra o forte conformismo de sua época, foi corajoso o bastante para denunciar o rígido sistema de castas da Índia. Foi contra os complexos rituais religiosos daqueles dias; aboliu os conceitos antropomórficos e não acreditava na ideia dualística de um “EU” ou alma independente, enquanto entidade separada. Explicou que todas as coisas estão relacionadas umas às outras pela Lei de Causa e Efeito.
No fim de sua vida, aos 80 anos, o Buda entrou em Paranirvana, a Liberação Final, a Paz Suprema.
"Buda" é um termo sânscrito que significa "O Iluminado". Buda não é uma estátua. Buda não foi uma divindade ou um ser extraterreno, nem qualquer espécie de Deus, nem um Profeta como há em muitas outras religiões. Buda foi um homem que encontrou A Verdade, viveu e ensinou essa Verdade.  Buda é um Estado de Vida, o maior Estado de Vida, onde manifestá-lo, nos enche de sabedoria, coragem, benevolência e compaixão.

O quê é o Budismo?
Ao contrário do pensamento comum, o Budismo não é somente uma religião e sim uma psicologia ou ciência da mente e uma filosofia de vida. O Budismo não tem uma definição, tendo aquela que qualquer praticante lhe queira atribuir, contudo poderemos denominá-la de Caminho de Crescimento Espiritual, através dos ensinamentos dos Budas.
Todos os seres sencientes têm a mesma intenção primordial - serem felizes e livrarem-se do sofrimento. Até mesmo os recém-nascidos, os animais, plantas e insetos têm esse desejo. É a nossa intenção, desde tempos sem inicio e isto está presente em nós o todo o tempo, mesmo quando estamos dormindo. Nós desperdiçamos todo o trabalho da nossa vida para realizar esta intenção.
Cada vez mais os seres humanos gastam tempo e energia desenvolvendo condições externas na sua busca pela felicidade e pela resolução dos seus problemas. Qual é o resultado disto? Em vez de vermos os nossos desejos satisfeitos, o sofrimento dos seres humanos cresce a cada dia que passa, ao contrário da felicidade e da paz, que a cada dia diminui mais e mais. Isto nos mostra claramente que precisamos encontrar um método válido, um veículo, para realizar felicidade pura e permanente e nos libertar do sofrimento e insatisfações.
Todos os nossos problemas e todos os nossos sofrimentos são criados por mentes descontroladas e ações não-virtuosas. Através da prática do Dharma nós podemos aprender a pacificar e controlar estes estados mentais. Para isto, Buda nos apresentou 84.000 ensinamentos, cada um referente a uma doença mental. Ensinando que a nossa vida humana é extremamente preciosa e rápida para nos preocuparmos com atividades fúteis e nefandas. Para contrapor tais atividades devemos desenvolver paz, calma e sabedoria, para nos abstrairmos dos Três Venenos (ignorância, auto-apego, e raiva), de modo a eliminar o nosso Karma negativo, sairmos da Roda de Samsara (o ciclo que rege nossa existência) e atingir felicidade permanente e a verdadeira cessação de todos os nossos sofrimentos (insatisfações).
Existem vários tipos de Budismo, consoante a aspiração de cada pessoa. Existem três tipos principais de Budismo, o Hinayana, o Mahayana, e o Vajrayana.
- No Hinayana, ou Pequeno Veículo, o praticante tem como motivação e objetivo a iluminação para bem próprio. Tentando cessar o seu sofrimento pessoal. O culminar deste caminho será a cessação de Samsara e a obtenção do estado de Arhat (respeitável/perfeito, que se caracteriza pela erradicação dos “ashrava”, um grupo de impurezas básicas e delírios que são as causas dos repetidos renascimentos).
- No Mahayana, ou Grande Veículo, o praticante tem como motivação e objetivo a iluminação para o bem de todos os seres. A motivação do Mahayana é a Compaixão Universal, pela qual se tenta atingir a cessação do sofrimento pessoal como o Hinayana, porém com outra intenção última, “que todos os seres também possam se livrar de todos os sofrimentos”, compreendendo que somente quando se alcança o estado de Buda é que se pode beneficiar todos os seres. Também é importante mencionar que só com Bodhichitta (nível mais elevado de altruísmo), este desejo de libertar todos os seres do sofrimento, se poderá atingir o estado de Buda.
- No Vajrayana, ou Veículo Diamante, o praticante tem a mesma motivação e mesma Bodhichitta, todavia se recebe através de instruções especiais e secretas de Lamas e Monges, atingindo assim a iluminação de um modo mais rápido.
Desta forma, o Budismo compreende o conjunto de tradições religiosas que surgiram a partir dos ensinamentos de Buda, assim como também poderá ser compreendido como uma Filosofia de Vida, para nós ocidentais. Pois, estes ensinamentos — O Dharma — Buda não os "inventou", mas sim redescobriu verdades atemporais que já tinham sido ensinadas pelos Seres Iluminados de eras passadas.
Atualmente, o Budismo é a religião mais difundida na Ásia, onde conta com aproximadamente 300 milhões de seguidores. Os primeiros contatos do budismo com o Ocidente aconteceram há muito tempo, mas somente a partir do século XIX é que houve um interesse maior por parte dos ocidentais.

O Budismo é religião, uma filosofia, um sistema de psicologia?
A tradição budista abrange e transcende todos estes aspectos. Como religião, o budismo nos procura "religar" (re-ligare) à nossa verdadeira natureza. Como filosofia, o budismo enfatiza o "amor à sabedoria" (philo-sophia) no sentido mais elevado. E como psicologia, o budismo oferece um vasto "conhecimento da mente" (psykhe-logos). Acima de tudo, o budismo oferece um caminho que conduz ao fim do sofrimento.

O Budismo é uma ciência?
Às vezes o Budismo é descrito como uma "ciência da mente", no sentido de oferecer um sistema de conhecimento profundo do funcionamento da mente. Os métodos usados pelo Buda para analisar a natureza das coisas são praticamente científicos. Seus ensinamentos surgiram a partir da profunda contemplação e compreensão das Leis Naturais de Causa e Efeito e podem ser atestada por qualquer pessoa, independente de suas crenças. O próprio Buda recomendou que seus discípulos deveriam analisar os ensinamentos e não simplesmente aceitá-los por mero respeito.

Quem é o “Papa” do Budismo?
O budismo não possui uma hierarquia centralizada; cada tradição possui a sua própria estrutura organizacional. Muitos pensam que Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin Gyatso, é o "Papa" do budismo. Na verdade, Sua Santidade é o líder espiritual do povo do Tibet, ocupando uma importante posição dentro tradição tibetana Gelug. Entretanto, o Dalai Lama não é "Papa" do budismo, pois este posto sequer existe. Muitos praticantes budistas de outras tradições budistas e não-budistas têm grande respeito por ele.

Como são os ensinamentos Budistas?
Há algumas características que permeiam os ensinamentos de Buda. Qualquer ensinamento que esteja de acordo com estas características pode ser considerado budista: todas as coisas condicionadas (ou seja, que surgem de causas) são insatisfatórias; todas as coisas condicionadas são impermanentes; todas as coisas (condicionadas e incondicionadas) são destituídas de um "Eu" ou de uma essência independente; apenas o Nirvana oferece paz verdadeira. Algumas pessoas pensam que o "Budismo é pessimista", que "só fala de sofrimento" e "nega a felicidade", na verdade, o Budismo adota uma visão realista de nossos problemas e oferece um caminho que conduz a mais elevada felicidade.

O que é o Despertar?
O despertar, ou iluminação, é o Estado de Buda, sendo o mais elevado em virtude e sabedoria. No Budismo não existe o conceito de "pecado original" porque todos os seres têm o potencial de atingir o despertar. Existe a iluminação dos ouvintes (shravaka-bodhi), aqueles que ouviram os ensinamentos de Buda e atingiram o despertar; a iluminação dos realizadores solitários (pratyeka-bodhi), aqueles que atingiram a iluminação sem precisar ouvir os ensinamentos de um Buda; e a iluminação completa e perfeita (samyaksambodhi), atingida apenas pelos Budas. Estes três tipos de iluminação são progressivamente mais profundos e mais difíceis de atingir.

O que é Nirvana?
O Nirvana é a mais alta felicidade, um estado completamente além do sofrimento. Todos aqueles que atingiram algum grau de iluminação desfrutam da paz do Nirvana. Aqueles que atingem o Nirvana não estão mais sujeitos ao renascimento na Roda do Samsara (a existência cíclica) porque estão além do ciclo de morte e renascimento. O Samsara é condicionado, isto é, surge de causas e condições; já o Nirvana é incondicionado, não depende de causas e condições. Por isso, o Nirvana não é um lugar, pois transcende o espaço e o Nirvana é eterno, pois transcende o tempo. O Nirvana não é a "extinção do ser", mas sim a "extinção do sofrimento".

Quais são os Principais Ensinamentos do Budismo?

São as Quatro Nobres Verdades:
1. Todos os seres estão sujeitos ao sofrimento (velhice, doença, morte, insatisfação etc.);
2. O sofrimento surge de causas (cobiça, raiva, ignorância etc.);
3. Ao eliminarmos as causas, o sofrimento é eliminado;
4. Praticando o Nobre Caminho Óctuplo, o sofrimento e suas causas são eliminados.

O que é o Nobre Caminho Óctuplo?
É o caminho ensinado pelo Buda que conduz ao Despertar. Ele recebe este nome por ser dividido em oito práticas, geralmente agrupado em três treinamentos.


Os Três Treinamentos Superiores
O Nobre Caminho Óctuplo
 I. Sabedoria
 1. Visão Correta
 2. Pensamento Correto
 II. Ética (ou Moralidade)
 3. Fala Correta
 4. Ação Correta
 5. Meio de Vida Correto
 III. Meditação
 6. Esforço Correto
 7. Atenção Correta
 8. Meditação Correta

 
Com o treinamento da Ética, nossa mente chega a um estado tranqüilo, propício à meditação. E com o treinamento da Meditação, é possível chegar à Sabedoria que conduz ao Despertar ou Estado de Buda. O Nobre Caminho Óctuplo também é conhecido como o "Caminho do Meio" porque é baseado na moderação e na harmonia, sem cair em extremos.